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Nelmo Wagner ampliou cultivo da oleaginosa de 850 para um total de 1.100 hectares | Christian Rizzi/gazeta Do Povo
Nelmo Wagner ampliou cultivo da oleaginosa de 850 para um total de 1.100 hectares| Foto: Christian Rizzi/gazeta Do Povo
  • Expedição visita a campo de produção de sementes em Alto Paraná. Cadeia em expansão

Conforme as colheitadeiras avançam sobre as últimas lavouras de verão, os produtores paraguaios confirmam um feito que eleva a importância do país no mercado internacional da soja: a marca das 8 milhões de toneladas, rompida pela primeira vez no ano passado, já foi superada e a meta de ultrapassar as 9 milhões de toneladas está cada vez mais perto de ser alcançada. Com mais de meio milhão de hectares de lavouras de “safrinha” ainda verdes, o Paraguai compensa o estrago causado pela seca e pelo calor da virada do ano e ganha espaço como quarto maior exportador.

Numa aposta de risco que até pouco tempo atrás era restrita a áreas de produção de semente, a soja safrinha ganha espaço inédito como opção de cultivo comercial no país vizinho. Se no verão o Paraguai cultiva apenas um décimo da área brasileira, no inverno já é líder absoluto.

Dos 3 milhões de hectares que foram cobertos pela oleaginosa na primeira safra, 550 mil hectares voltaram a receber sementes de soja na segunda safra – quase o dobro do registrado no ano passado e cinco vezes mais que a área de duas safras atrás, apurou a Expedição Safra Gazeta do Povo, em parceria com a Agrotec. Os produtores brasileiros, que chegaram a cogitar destinar mais de 1 milhão de hectares para a soja safrinha, acabaram cobrindo com a oleaginosa apenas perto de 1% dos quase 30 milhões de hectares cultivados no verão.

O Paraguai amplia sua produção intensificando o uso da terra. Numa mesma área, o país vizinho cultiva não duas, mas até três lavouras por ano. Depois de duas safras de soja, os paraguaios ainda encontram janela para semear o trigo, num calendário intensivo de produção que exige altos investimentos em tecnologia e desafia a sustentabilidade do sistema. Não recomendado pelos técnicos, por criar uma espécie de ponte verde para a propagação de pragas e doenças, o cultivo de soja acontece em toda a zona agrícola do Leste do país.

“Antes, a terra ficava descoberta por vários meses durante a entressafra. Há cinco anos, só uns 10% dos nossos cooperados faziam safrinha. Hoje, pelo menos metade deles cultiva uma segunda safra”, compara Celso Mattei, diretor-tesoureiro da cooperativa Unión Curupayty, Santa Rosa del Monday, no departamento (estado) de Alto Paraná.

Desestimulado pelos preços do milho, Nelmo Wagner resolveu destinar perto de um terço dos 850 hectares que cultiva na região à soja safrinha. A opção é considerada lucrativa mesmo com produtividade 50% menor. Com dois terços da área de verão cobertos novamente por lavouras de soja, Darci Giacomino espera conseguir, na segunda safra, ao menos 2 mil quilos por hectare. Na primeira safra, chegou a 4,3 mil quilos por hectare.

Sensível à luminosidade em queda, a oleaginosa tem seu teto produtivo reduzido. Mas, num giro de mais de mil quilômetros pelo cinturão de produção de grãos paraguaio na última semana, os técnicos e jornalistas da Expedição encontraram lavouras segunda safra com potencial para 2,8 mil quilos por hectare. A marca, contudo, dificilmente será atingida como média.

Expedição visita a campo de produção de sementes em Alto Paraná. Cadeia em expansão

 

 

Safra de verão

Castigadas pelo clima quente e seco na virada do ano, as lavouras de verão tiveram seu potencial produtivo reduzido em 7% e impediram que a marca das 9 milhões de toneladas fosse atingida na primeira safra. A produtividade média da soja paraguaia, que no início deste mês chegava a 3 mil quilos por hectare, recuou a 2,8 mil quilos ao final da colheita de verão. Individualmente, os rendimentos, que alcançaram picos de mais de 4 mil quilos por hectare em lavouras precoces da porção Centro-Sul do país, recuaram à casa dos 1 mil kg/ha em colheitas tardias nos solos arenosos do Norte.

Na Argentina, retorno das chuvas causa nova interrupção na colheita

José Rocher

A Argentina deve ter a colheita de soja e milho interrompida pela terceira vez nesta semana antes de as máquinas atingirem 5% da área plantada. As chuvas, que segundo as previsões meteorológicas começam nesta quarta e seguem até o fim de semana, adiam os trabalhos de campo. A colheita deve ficar uma semana atrasada em relação à safra passada.

Nas áreas que enfrentaram inundações entre janeiro e fevereiro, o quadro agrava as perdas, que já consumiram 2 milhões de toneladas de soja e milho diante do potencial inicial das lavouras, apurou a Expedição Safra Gazeta do Povo. Mas tem um lado positivo: favorece as lavouras de regiões tradicionalmente mais secas, que estão registrando produtividade de 2,7 mil quilos de soja e até 8 mil quilos de milho. Essas marcas são consideradas excelentes para plantações de segunda época.

O clima irregular, no entanto, prejudica a região produtiva responsável por mais da metade da colheita. Neste momento, a estimativa é que a colheita vai somar 53,8 milhões de toneladas de soja e 23 milhões de toneladas de milho. As perdas ainda são parciais, aponta a Bolsa de Cereais do país, que esperava recorde e agora avalia a safra como boa e volumosa, com potencial para exportação de 16 milhões de toneladas de milho e 6 milhões (t) de soja em grão.

Nota da Redação: Monocultura favorece pragas e pode custar caro

Giovani Ferreira, Agronegócio Gazeta do Povo

O expressivo crescimento da soja safrinha no Brasil e no Paraguai se traduz em oportunidade e risco. Na verdade, um dilema, econômico e agronômico da atividade. A monocultura da soja amplia ainda mais a pressão de pragas e doenças, coloca em risco a agricultura sustentável e representa uma ameaça a décadas de pesquisa e evolução dos sistemas produtivos.

Cada vez mais a rotação de culturas deixa de ser encarada como uma simples ferramenta de manejo para se transformar em tecnologia de produção. Soja na safra de verão e milho na safrinha (inverno), tudo bem, desde que seja respeitado o vazio sanitário da oleaginosa. Agora, a opção por soja sobre soja pode acabar custando caro.

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