Com colheitadeiras a todo vapor nas lavouras, a safra recorde de soja no Brasil, de mais de 100 milhões de toneladas, está praticamente consolidada. A comercialização, no entanto, não acompanha esse ritmo. Enquanto nessa mesma época, no ano passado, os produtores já tinham comprometido 60% da produção, nesse ano esse número está próximo de 45%. Com o passar do tempo, toda essa soja inevitavelmente vai entrar no mercado. A preocupação é que os preços, que começam a dar sinais de queda, possam sofrer pressões negativas.
O analista de mercado Camilo Motter, da Granoeste, explica que o ritmo mais lento na comercialização brasileira, somado à boa demanda pela oleaginosa no mercado internacional, tinha ajudado a segurar o bushel acima dos US$ 10 em Chicago até a semana passada. Nos últimos dias, no entanto, com a expectativa de que mais produto entre no mercado, o preço já caiu para a casa de US$ 9,80 o bushel. “Chega uma hora que os compromissos vão chegando, apesar dos preços internos mais fracos, pressão negativa do câmbio e o produtor vende”, aponta.
Motter esclarece que hoje o principal aspecto em relação à cotação para o produtor brasileiro (abaixo de R$ 60 neste dia 28 de março no Paraná) é o câmbio. Nessa mesma época, em 2016, a soja estava US$ 9,10 o bushel, mas o dólar valia R$ 3,65. Hoje, o dólar está próximo da casa dos R$ 3,10 a R$ 3,15, o que diminui o prêmio na conversão para a moeda brasileira. “Em 2016, os importadores tinham vindo buscar produto na América do Sul e havia expectativa de mais sobra de estoque nos Estados Unidos”, esclarece. “Nesse ano, como o produtor brasileiro reteve e importadores buscaram mais volume nos Estados Unidos, nós temos os fundamentos que formam o preço completamente diferentes”, completa.
Com esse cenário, o analista aponta que dificilmente os preços reajam significativamente. “A tese que eu defendo: só vamos ter preços em alta consistente se houver problema climático na safra americana. Não acredito que teremos demanda que vá superar a grande oferta que já está no mercado e não haverá demanda para impulsionar preços se houver safra cheia nos EUA”, resume Motter.
Milho também tem ritmo lento de comercialização
A produção de milho segunda safra tem previsão de atingir patamares recordes, caso o clima seja favorável até o fim do desenvolvimento da cultura. Mas com a queda para a casa dos R$ 20 atualmente, após chegar aos R$ 50 em algumas praças em 2016, os produtores têm fechado poucos negócios. Ana Luiza Lodi, analista de mercado na INTLFCStone, estima que até o momento somente 22% do volume esperado já tenha sido travado. Para se ter ideia, ainda em janeiro de 2016, 30% já tinha sido comercializado. “No caso do milho a comercialização do milho está bem mais lenta porque tivemos uma alta nos preços no primeiro semestre do ano passado”, explica.
A analista sinaliza que esse cenário faz as exportações de milho merecerem atenção. “A questão das exportações preocupa, nem tanto pelo atraso na comercialização, é comum mesmo o Brasil exportar no segundo semestre. Nós temos potencial de uma safrinha recorde, o aumento de área está se confirmando mesmo. Isso tende a pressionar os preços para baixo, a não ser que haja algum problema na safra americana”, analisa. Ela não descarta a que haja necessidade inclusive que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) precise fazer leilões para auxiliar no escoamento da safra de milho brasileira.
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