A desvalorização da soja no mercado internacional, que chegou a completar dez pregões consecutivos na Bolsa de Chicago na última semana, tem travado os negócios no Brasil, tanto para o produto remanescente da última safra como para o que ainda nem ganhou o solo. Fontes que acompanham o comércio diariamente afirmam que os produtores estão prorrogando a decisão de venda na esperança de valorização da oleaginosa. Já os compradores estão retraídos, porque acreditam que há espaço para mais baixas.
“A demanda está enfraquecida desde a virada de maio para junho [quando houve confirmação de aumento de área para a soja nos EUA]”, relata Alexandre Bessart, gerente de originação da Agrex do Brasil, grupo que atua na produção e comercialização de grãos e insumos. “Em anos anteriores, nesta época já estávamos com o programa fechado [toda safra velha vendida]. Hoje estamos com 85% da produção do ano passado e 20% da safra nova comprometidos.” Neste ano, a empresa começou a comprar grãos em abril e, em 2013, nos primeiros dias de janeiro.
O cenário de oferta ampliada impacta nos resultados da empresa. Os preços médios da soja vendida para a safra nova caíram 13% em relação ao produto colhido no ciclo passado. Os contratos negociados para entrega futura foram fixados à média de US$ 440 por tonelada. Já a colheita velha foi vendida à média de US$ 505 por tonelada, afirma Bessart.
Em Mato Grosso, a comercialização antecipada está atrasada, conforme a Aprosoja, associação que representa os produtores no estado. Apesar da pressão vinda do Hemisfério Norte, os preços do produto estão estabilizados em R$ 45 por saca, mas só há negócios, e poucos, para pronta entrega. Para o mercado futuro, não tem negócio.
“Entre 10% e 12% da safra 2014/15 foram vendidos. E quase tudo feito à base de troca por insumos. O produtor só travou o custo. Ou não quis vender mais ou não teve para quem vender. Nesta época do ano passado, próximo de 40% da produção estavam comprometidos”, revela Cid Sanches, gerente de planejamento da entidade.
Estímulo ao consumo
Por outro lado, a queda nas cotações da oleaginosa na Bolsa de Chicago deve provocar um estímulo adicional ao consumo do produto, avalia Flávio França Júnior, consultor de agronegócio. “Tudo que for derivado de soja, milho e trigo vai ser beneficiado com preço mais baixo – óleo, biodiesel, carnes. Existe espaço para isso [maior consumo], já que a economia mundial está melhorando. Mas quando falamos de aumento de demanda é sempre a longo prazo”, ressalta.
Diante do novo cenário, ele acredita que a tendência é que as cotações da soja não caiam para níveis aquém dos US$ 10 por bushel na Bolsa de Chicago.