O mercado de farelo de soja ainda sente os efeitos da quebra de safra nos Estados Unidos e parte da Argentina e do Brasil no ano passado. A maior parte do grão que saiu do campo neste ano seguiu direto para destinos internacionais. Sem matéria-prima, a indústria nacional tirou o pé do acelerador e, pela primeira vez, deve processar volume inferior ao movimentado pelo mercado exportador. Segundo a Abiove, entidade que representa o setor, o Brasil deve esmagar 37,5 milhões de toneladas de soja e 39 milhões de toneladas devem deixar o país na forma de grão.
O balanço parcial de 2013 confirma a tendência. No primeiro trimestre, a ociosidade da indústria chegou a 45% e hoje está em 35%, conforme dados da Abiove. Resultado: o volume processado entre janeiro e maio caiu 38% na comparação com o ano anterior. Na contramão, as exportações de soja em grão acumulam alta de 11,7%, com um total de 26,1 milhões de toneladas embarcadas no primeiro semestre.
Como a prioridade foi exportar grãos, as vendas externas brasileiras de farelo e óleo de soja também despencaram no primeiro semestre, 22% e 75%, respectivamente. Agora que o mercado começa a ser pressionado pela expectativa de uma retomada da produção nos Estados Unidos – o que significa preços frágeis e mais propensos à queda –, o Brasil corre para tentar recuperar parte do tempo perdido. “Demanda tem. A briga está entre quem vende, se o Brasil ou a Argentina”, afirma o secretário-executivo da Abiove, Fábio Trigueirinho. Para este ano, a estimativa de exportações de farelo da entidade aponta para 14,2 milhões de toneladas, contra 13,7 milhões de toneladas no ano passado.
A indústria brasileira aguarda retomada do esmagamento de soja nos próximos meses para revisar suas projeções anuais. Se o ritmo se mantiver igual, há mais chances de que os números sejam revisados para baixo, admite Trigueirinho. “O nível de esmagamento atual é considerado elevado, encosta no nível de 2011. Mas, se a safra é recorde, deveríamos estar processando mais também”, diz.
Ele lembra que a falta de uma política de incentivo às vendas de produtos com valor agregado, como é o caso do óleo e do farelo, tira oportunidades do Brasil. “Hoje, tenho créditos que estão represados. Se não há liquidez de créditos, não consigo usá-los para nada”, reclama Trigueirinho.
Tendência
Para o analista de mercado da Informa Economics FNP, Aedson Pereira, o bonde do farelo pode não ter passado. “A gente ainda consegue conquistar clientes porque tem mercado lá fora. Como o grão demorou a chegar em praticamente todos os destinos [por problemas logísticos], surgiu uma demanda acima do previsto para o período”, revela. Maiores consumidores de farelo de soja do mundo, os países da União Europeia devem elevar seu apetite pelo produto em 1 milhão de toneladas e importar um total de 20 milhões de toneladas neste ano.
Pereira lembra que a Argentina, principal concorrente do Brasil no comércio exterior, passa por situação semelhante à da indústria brasileira. No primeiro semestre deste ano, embarcou 10,5 milhões de toneladas de farelo, quase 2 milhões a menos em relação ao ano passado.
Quem conseguiu roubar o espaço de Brasil e Argentina nas exportações do produto foram os Estados Unidos. Apesar dos problemas com escassez de oferta, provocada por uma das piores secas da história do país, os norte-americanos venderam 8,5 milhões de toneladas, contra 6,5 milhões registrados no ano passado. “E eles [os EUA] têm mais 1,5 milhão de toneladas negociadas que devem ser entregues nos próximos meses”, lembra Pereira.
US$ 529 foi o preço médio da tonelada pago pelo importador pela soja do Brasil no primeiro semestre, 7% mais que o do farelo