A Soja Louca 2 é uma doença que predomina em regiões quentes e chuvosas como os estados do Maranhão, Tocantins, Pará e Mato Grosso.| Foto: Lineu Filho/Gazeta do Povo

Parece nome de filme de terror, mas o problema é real e preocupa pesquisadores brasileiros. A boa notícia é que eles acabaram de fazer uma descoberta importante no combate à Soja Louca 2, que chega a causar perdas totais de produtividade, com abortamento das vagens, enrugamento e escurecimento das folhas. Até agora, os pesquisadores já conheciam a causa da doença, o nematoide da haste verde ou Aphelenchoides besseyi, pelo nome científico, mas não sabiam como a praga se alastrava de uma safra para outra nas lavouras.

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Inimigo (des)conhecido

A Soja Louca 2 é uma doença que predomina em regiões quentes e chuvosas como os estados do Maranhão, Tocantins, Pará e Mato Grosso. Por mais de dez anos, diversos estudos tentaram identificar sua causa, mas, somente em 2015, pesquisadores da Embrapa e da Epamig Oeste descobriram que o nematoide da haste verde era o agente causador.

Os sintomas da enfermidade são observados no início da fase reprodutiva da soja, que apresenta afilamento das folhas do topo das plantas, enrugamento das folhas e engrossamento das suas nervuras. As folhas com sintomas apresentam coloração mais escura e menor pilosidade em relação às folhas normais. Também é observado que as hastes exibem deformações e engrossamento dos nós. As vagens podem apresentar lesões, rachaduras, apodrecimento, redução do número de grãos e menor pilosidade.

As plantas afetadas registram um alto índice de abortamento de vagens, provocando, muitas vezes, a indução de uma nova floração e sintomas de superbrotamento. Esse abortamento é mais intenso na parte superior das plantas, diminuindo em direção à base, o que impede o processo natural de maturação. Assim, a planta permanece verde mesmo após a aplicação de herbicidas dessecantes.

Antecessora, a Soja Louca 1 tinha sintomas semelhantes, mas era provocada por percevejos e foi descoberta ainda na década de 1980.

No entanto, os primeiros resultados das pesquisas com plantas hospedeiras revelam que, além da soja, algodão e feijão também podem hospedar o invasor, além de quatro plantas daninhas: trapoeraba, agriãozinho-do-pasto, cordão-de-frade e caruru. Os pesquisadores Maurício Meyer, da Embrapa Soja, e Luciany Favoreto, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), também buscavam respostas sobre como o nematoide sobrevive no solo nos períodos de entressafra e se há cultivares de soja mais sensíveis a ele.

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Segundo os pesquisadores, havia poucos estudos sobre o assunto. “Esses trabalhos eram menosprezados, talvez pelo baixo impacto econômico sobre culturas agrícolas quando comparado aos nematoides-de-galha, de cisto e o Pratylenchus”, contam. “Porém, é imprescindível gerar resultados de pesquisa para estratégias de controle, no menor prazo possível, para minimizar as perdas na produção de soja e de algodão.”

Segundo Maurício Meyer, existem relatos da ocorrência do problema em lavouras de feijão na Costa Rica, na América Central, por isso os testes foram conduzidos no Brasil. “Inoculamos em feijoeiro, as populações de nematoide oriundas da soja, e confirmamos os mesmos sintomas descritos na Costa Rica, contudo, não existe relato de ocorrência do problema em lavouras de feijão brasileiras”, explica Meyer.

Com relação ao algodão, porém, as primeiras lavouras atacadas pela praga foram identificadas no início deste ano, nas regiões de Sapezal e de Sorriso, em Mato Grosso. De acordo com o pesquisador do Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMA-MT), Rafael Galbieri, o nematoide está presente no solo, e um dos fatores que pode ter favorecido seu ataque foi o excesso de chuvas nas regiões atingidas, em fevereiro e março.

“É difícil avaliar danos ainda, porque identificamos os primeiros ataques no início deste ano na cultura do algodão”, afirma o pesquisador. “Ainda não definimos as estratégias de manejo, porque é tudo muito recente. O importante é que formamos um grupo de trabalho para aprofundar os conhecimentos sobre a doença na cultura do algodão.”

Soja Louca 2 chega a causar perdas totais de produtividade, com abortamento das vagens, enrugamento e escurecimento das folhas. 
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Pesquisadores em alerta

Quanto à capacidade de hospedar o nematoide, os pesquisadores avaliaram as culturas de algodão, feijão, milho, milheto e sorgo. Apenas o algodão e o feijão foram confirmados como hospedeiros, ou seja, podem sofrer danos causados pelo nematoide. As amostras confirmadas de plantas do algodoeiro, da região de Sapezal (MT), apresentavam sintomas de engrossamento de nós, deformações foliares, diminuição de porte e perda de botões florais, similares aos observados na soja.

Além do algodão, 22 variedades de feijão foram avaliadas para se entender como as diferentes cultivares podem ser sensíveis ao à Soja Louca 2. “Apesar de todas hospedarem o nematoide, observamos a existência de variabilidade genética entre as plantas, assim como acontece com a soja”, explica Favoreto.

No caso da soja, das 64 cultivares avaliadas, 62 apresentaram maior intensidade de sintomas. “Esses resultados indicam alguma variabilidade genética da soja para resistência a A. besseyi”, diz Meyer. Segundo ele, a Embrapa vai estudar fontes de resistência genética para desenvolver cultivares resistentes ao problema. Até o momento, nenhuma se se mostrou resistente ao nematoide.

Enquanto novos resultados de pesquisas vêm sendo gerados, os pesquisadores recomendam técnicas de manejo de plantas na lavoura, tais como a dessecação antecipada à semeadura de soja e algodão, e um efetivo controle de plantas invasoras, o que já trouxe bons resultados na região do Matopiba durante a safra 2016/17.

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