A demanda por soja em grão mantém a indústria de processamento ociosa em 2014. A Associação Brasileira de Óleos Vegetais (Abiove) estima que a ociosidade será de 37% da capacidade instalada, com redução de apenas dois pontos frente aos 39% de 2013. Isso acontece num ano em que a colheita cresce perto de 10% no país. É a segunda vez desde 2003 que o Brasil vai exportar mais do que esmagar.
Analistas e empresários avaliam que a diferença entre as 44 milhões de toneladas a serem exportadas e as 37 milhões a serem esmagadas (7 milhões de toneladas) tende a crescer ainda mais e tratam com cautela a possibilidade de novos investimentos. Com crescimento lento, a moagem da oleaginosa não tem acompanhado a evolução registrada pelos demais segmentos do complexo soja. Em onze anos, enquanto a industrialização do produto avançou 34,8%, a colheita aumentou 65,9% e o embarque de grãos saltou 120%, conforme dados da própria Abiove.
“Desde 2010, pelo menos, o setor está cauteloso em relação a novos aportes. Há uma coisa ou outra relacionada ao biodiesel, mas nada que traga ânimo. Não temos informação de investimentos significativos”, afirma o gerente de Economia da Abiove, Daniel Furlan Amaral. Ele ressalta que questões tributárias agravam o quadro.
Em ano de safra recorde, quem vai ditar o ritmo do processamento interno são as vendas para o comércio exterior. A Companhia de Abastecimento Nacional (Conab) estima que 53% da colheita de soja serão exportados in natura. A Abiove aponta 51%. Só em fevereiro, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior (MDIC), foram exportados 2,79 milhões de toneladas de soja, quase três vezes o volume do mesmo mês de 2013 (960 mil t).
O analista de mercado da consultoria INTL FCStone Glauco Monte destaca a influência chinesa na variação desses números. O gigante asiático, maior comprador da colheita brasileira, prefere, ele próprio, transformar os grãos em mercadorias de valor agregado. “A China importou muito nos últimos meses, mas as margens de esmagamento lá, apesar de positivas, estão diminuindo.” Mesmo assim, essa redução não promete alavancar importações de farelo e óleo, pontua.
O consultor Luiz Fernando Gutierrez, da Safras & Mercado, ressalta outra possibilidade: a necessidade de os americanos adquirirem parte da oleaginosa brasileira – em grão. “Os armazéns deles estão quase vazios. Eles importaram do Brasil nos últimos anos e, mesmo sendo uma quantidade não tão relevante, pode fazer alguma diferença”.
Tributação deixa o setor desestimulado
Os empresários da indústria de processamento de soja atribuem a estagnação do setor ao peso tributário. Reclamam da dificuldade de receber créditos presumidos da União referentes aos impostos que recolhem. “O tempo médio de espera é de cinco anos”, diz o gerente de Economia da Associação Brasileira de Óleos Vegetais (Abiove), Daniel Furlan Amaral.
A cobrança de impostos sobre a industrialização é questionada pelo vice-presidente da Cocamar (com sede em Maringá, PR), José Cícero Aberaldo. Ele defende que, se não há imposto sobre os grãos exportados, o processamento deveria ser desonerado. “Em outros países, como na Argentina, o imposto sobre a venda de grãos para o exterior é maior do que para o óleo e o farelo”, compara.
No ano passado, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 12.865, que prevê a isenção de 9,25% da incidência de PIS/Cofins na venda de soja para qualquer fim comercial. Mas, na prática, diz a Abiove, a nova legislação ainda não deu resultados.
Já o presidente da Coamo (Campo Mourão, PR), José Aroldo Gallassini, atribui ao próprio mercado o crescimento limitado das indústrias. “A China é o grande comprador de soja mundial e eles não importam farelo e óleo. Temos que nos adaptar e estar preparados”, afirmou.
Mato Grosso
Sem previsão de melhoras no mercado no curto prazo, as cooperativas paranaenses não pretendem investir no setor de esmagamento de soja em 2014. Enquanto isso, Mato Grosso (MT) abre distância no ranking de capacidade instalada de processamento no país, após assumir a liderança no ano passado.
De 1998 até 2013, o estado vizinho expandiu sua produção de 8,7 mil para 38,7 mil toneladas por dia, um crescimento de 344%. Já o Paraná registrou redução de 2,72%, caindo de 36,7 mil para 35,7 mil toneladas diárias. Os dados são da Associação Brasileira de Óleos Vegetais (Abiove).