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Rainha no Brasil, soja vai destronar milho nos Estados Unidos

Líderes mundiais, Brasil e Estados Unidos têm quase a mesma área plantada com soja | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Líderes mundiais, Brasil e Estados Unidos têm quase a mesma área plantada com soja (Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo)

Pela primeira vez em 35 anos, a soja deve roubar do milho a coroa de principal grão cultivado nos Estados Unidos. Os produtores americanos se preparam para plantar um recorde de 36,7 milhões de hectares com a leguminosa, segundo pesquisa da Bloomberg junto a 21 traders e analistas de mercado.

O cultivo de milho deverá recuar para 36,4 milhões de hectares. A última vez em que a soja superou o milho foi em 1983, quando o governo ainda pagava subsídios para terras ociosas. (Obs: no Brasil, a soja reina inconteste como grão mais cultivado desde a safra 1997/98, quando chegou a 13,2 milhões de hectares contra 11,4 milhões do milho. Na safra 2017/18, a estimativa da Conab é de 35 milhões de hectares de soja no Brasil e 16,4 milhões de milho).

Quanto à realidade dos Estados Unidos, a impressão “já vi esse filme antes” não está errada. No ano passado, nesta época, os analistas já esperavam a coroação da soja, porque a leguminosa vinha oferecendo preços melhores. Apesar de os produtores semearem soja como nunca, o cultivo ficou ligeiramente abaixo da área plantada com milho, que foi favorecido pelas condições climáticas. Então, por que dessa vez seria diferente? A resposta está na seca.

Cerca de 16% do cinturão verde do Meio Oeste já sofre com a estiagem e há previsão de mais tempo seco para o início da nova safra. Soja, trigo e algodão são mais tolerantes à falta de água do que o milho. Os preços também favorecem a soja. As cotações futuras da colheita deste ano estão 2,5 melhores do que os contratos para o milho. É o quinto ano consecutivo que a leguminosa oferece retornos melhores.

Depois de vários anos de preços baixos, esses “prêmios” são mais importantes do que nunca. É o que garante Julie Burgod, produtora de 52 anos que cria gado e cultiva grãos em 1800 hectares em Ipswich, na Dakota do Sul, junto com o marido e o filho.

Eles planejam reduzir pela metade a área de milho para abrir caminho para a soja, por que as espigas não “pagam as contas”. Julie também é dona de uma corretora de seguro rural e diz que muitos de seus clientes se inclinam a fazer o mesmo.

Dinastia

“A soja é rei, o milho é a rainha”, resume Julie. “Também estamos preocupados com a previsão de solos mais secos em 2018”. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) vai divulgar o primeiro levantamento da próxima safra no seu 94º encontro anual Agricultural Outlook Forum, que começa nesta quinta-feira em Arlington, na Virgínia.

A estiagem no momento é mais aguda na parte norte das Grandes Planícies. Em Dakota do Norte, as áreas que sofrem com a seca cobrem 65% do estado, enquanto ano passado, nesta época, o problema não existia – segundo o Drought Monitor.

Os solos áridos estão limitando as opções de plantio, segundo Jim Diepolder, produtor rural e dono de uma casa agropecuária perto de Willow City, em Dakota do Norte. As condições atuais reduzem as chances de o milho alcançar a produtividade necessária para cobrir os custos de produção.

A cevada também é menos atraente depois que uma série de colheitas abundantes inflaram os estoques, levando as empresas de cerveja a cortar contratos de fornecimento. Diepolder não está plantando nenhum milho neste ano e vai reduzir a área da cevada pela metade. Ele substituirá as culturas com outro grão que pode deve ganhar território: o trigo. E semeará também a canola, que é igualmente mais resistente à seca.

“Fico de olho no clima e nas cotações, mas o clima é que manda”, diz Diepolder. “Quanto mais seco ficar, mais trigo será plantado por que a cultura aguenta melhor a estiagem. É preciso ter alguma coisa quando chegar a época da colheita”.

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