A maior seca em décadas na Argentina abre um mercado de 10 milhões de toneladas de soja para os demais competidores, entre eles o Brasil. O país vizinho é o terceiro maior exportador mundial de soja e milho e, segundo a Confederação Rural Argentina (CRA), terá uma perda econômica de US$ 8 bilhões com a seca (cerca de R$ 26 bilhões).
Os problemas com estiagem começaram em novembro do ano passado, mas ficaram mais evidentes a partir de fevereiro. Em algumas zonas, o volume de chuvas já chega a ser 87,5% mais baixo do que a média histórica. Na região conhecida como “pampa úmido”, uma das mais férteis do país, a seca é a pior dos últimos 44 anos, segundo o jornal La Nación.
O drama argentino será acompanhado de perto pela Expedição Safra 2017/18 do Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo, que nesta semana, após percorrer o Paraguai e o Rio Grande do Sul, cruza novamente a fronteira para conversar com produtores, cooperativas e técnicos da Bolsa de Comércio de Rosário.
Na semana passada, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) revisou as estimativas para a produção argentina de soja, a 47 milhões de toneladas. No último levantamento, feito em fevereiro, a projeção era de 54 milhões de toneladas.
A Bolsa de Cereais de Buenos Aires é mais pessimista: espera uma colheita de 42 milhões de toneladas, 2 milhões a menos que no levantamento anterior, feito há duas semana. O número também está 12 milhões de toneladas abaixo do previsto no começo da temporada e é 15,5 milhões inferior ao total colhido em 2016/17.
A Bolsa não descarta a possibilidade de novas revisões para baixo. Só nas lavouras de soja, o recuo nas projeções de área cultivada nesta temporada já passa de 700 mil hectares. Ou seja, com menor produção na Argentina, a tendência de alta de preços globais se acentua, favorecendo a cadeia exportadora de soja brasileira.
Diante desse cenário, a Confederação Rural Argentina pediu que o governo federal socorra os produtores do país. “A CRA vê a necessidade de que o governo destine fundos de assistência extraordinária para diminuir as perdas econômicas”, publicou a entidade em nota.
Os produtores argentinos não esperavam uma perda tão grande este ano. Pelo contrário. Os cortes nos impostos de exportação de commodities agrícolas aplicados pelo presidente da Argentina, Maurício Macri, assim que ele assumiu, geraram a expectativa de que os agricultores do país ganhariam participação de mercado durante a safra 2017/18. Isso fez com que eles ampliassem as áreas de plantio de grãos.
Brasileiros
Segundo especialistas em comércio exterior, a quebra de safra na Argentina não só vem permitindo preços mais altos de produtos como soja e milho, como abriu um grande espaço a ser preenchido pelos produtores brasileiros, principalmente no primeiro semestre, antes de os Estados Unidos - os maiores exportadores desses grãos - começarem a escoar sua produção no mercado internacional.
Junto com estimativas de uma produtividade das lavouras de soja melhor do que se esperava no início do ano, o quadro favorável ao Brasil na competição internacional deve ajudar a anular o efeito do encolhimento da safra agrícola total, que, até poucos meses atrás, despertava expectativas de menor protagonismo da agricultura no desempenho da balança comercial brasileira.
Deixe sua opinião