No campo, rendimento das lavouras gera otimismo, mas preços têm deixado produtores preocupados.| Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo

Da porteira para dentro, em praticamente todo o Brasil, o clima é de otimismo com as prováveis mais de 100 milhões de toneladas de soja. Mas com relação aos preços em reais, os produtores do grão enfrentam o cenário mais desfavorável dos últimos dois anos. No último dia 23 de fevereiro, o valor médio pago pela saca da oleaginosa no Paraná bateu em R$ 66 – o valor mais baixo desde 7 de julho de 2015, quando a cotação do dia fechou em R$ 65,88. Para se ter ideia, em 2016, também no dia 23 de fevereiro, o preço pago por 60 kg de soja era de R$ 72,66 (diferença de 10% em um ano). Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP).

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Uma série de fatores está envolvida na composição do preço da soja, mas um deles está influenciando de modo mais agressivo a cotação em reais: câmbio. O diretor de commodities da INTL FCStone, Glauco Monte, ressalta que o bushel (unidade americana de medida) de soja está cotado em um bom patamar na Bolsa de Chicago – acima de 10 dólares. Em fevereiro de 2016, o bushel estava cotado abaixo dos 9 dólares. “Só que no ano passado estávamos com o dólar muito mais próximo de R$ 4. Hoje, estamos com o dólar muito mais próximo de R$ 3”, compara.

Glauco diz que, com esses preços, o produtor vai tentar segurar ao máximo a venda da soja – que desde o início da safra ocorre em um ritmo bem mais lento do que a média. “Como até agora temos safra cheia, mais cedo ou mais tarde vai ser necessário acelerar a comercialização. Isso pode, sem dúvida, pressionar os preços”, opina. Segundo ele, é difícil prever o impacto preciso nesse preço, justamente pelo fator câmbio que tem uma curva totalmente diferente da soja.

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Cotação poderia ser pior

Camilo Motter, economista e analista de mercado da Granoeste, também cita que o câmbio é o fator central no preço baixo da oleaginosa em reais. Mas ele explica que os estoques nesse ano estão maiores e que, não fosse a marcha lenta da comercialização brasileira, o cenário poderia ser pior. “A relação de oferta e demanda nesse ano é muito mais frouxa. Mesmo assim, em termos globais, temos uma demanda muito boa da China. O câmbio no Brasil muito valorizado desestimula os negócios, ou seja, o brasileiro quase não está vendendo e por isso é que Chicago se mantém [perto dos 10 dólares o bushel]”, diz.

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Com as delações dentro e fora do âmbito da Lava Janto em andamento, Motter diz que fazer previsões de câmbio é assumir o risco de cair no ridículo. Além disso, as medidas de Donald Trump, que em alguns momentos tem se mostrado intempestivo, podem interferir no dólar para cima ou para baixo. “Para o produtor o que tenho dito é que para não cair em uma pegadinha, vá participando do mercado”, aconselha.