Soja brasileira: exportações para China devem aumentar. Já União Europeia pode buscar o grão nos Estados Unidos| Foto: Ivan Bueno/APPA

A disputa comercial entre a China e os Estados Unidos não trouxe apenas más notícias aos produtores de soja norte-americanos. Ainda que o aumento de tarifas se concretize para o produto exportado à China, novas portas estão se abrindo no segundo maior importador de soja do mundo: a União Europeia.

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A troca de farpas entre as duas maiores economias do mundo impulsionou os preços do grão no Brasil, o maior exportador do planeta, forçando os europeus a olhar para outros fornecedores. É provável que os Estados Unidos ultrapassem o Brasil como o maior vendedor para o bloco de 28 países já no próximo período de safra, segundo estudo do grupo financeiro Rabobank International, especialista em comércio exterior e crédito para agronegócio.

“Se a China implementar as tarifas, acreditamos que a Europa importará mais grãos dos Estados Unidos do que o Brasil”, afirma Michael Magdovitz, analista de soja da instituição. “A redução de preços dos grãos norte-americanos comparados aos brasileiros devem provocar essa situação”.

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‘Toma lá dá cá’

A tensão comercial vem se intensificando nas últimas semanas, com a China prometendo retaliar as intimidações do presidente Donald Trump, que ameaça sobretaxar as importações chinesas em até US$ 200 bilhões. A China é o maior importador de soja do planeta, parcialmente utilizada para ração animal, e planeja reduzir os embarques dos Estados Unidos, o que provocou o aumento dos prêmios pagos à oleoginosa no mercado brasileiro.

Durante a última semana, por exemplo, as vendas que devem partir do Porto de Paranaguá em setembro estavam pagando até US$ 1,95 por bushel no mercado de futuros, segundo o analista de mercado Ary Oleofar, de São Paulo. Isso é o dobro do mês anterior. No mesmo futuro, os pagamentos da Bolsa de Chicago caíram 15%.

A União Europeia é o segundo maior comprador da soja brasileira,e o país sul-americano era o principal fornecedor do bloco nas últimas seis safras, segundo dados do Governo brasileiro e da Comissão Europeia.

Isso pode mudar com a provável guerra comercial, o que pode aumentar a participação da China na importação da soja sul-americana em 90% entre junho e dezembro, estima a Oil World (Soja no Mundo), publicação e consultoria alemã especializada em óleos e biocombustíveis.

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A China pode substituir as importações de cerca de 4 milhões de toneladas oriundas dos Estados Unidos a partir do abastecimento brasileiro já no quarto trimestre, segundo o Rabobank. Essas perdas seriam parcialmente compensadas pelos norte-americanos em cerca de 2 milhões de toneladas, com a demanda por soja da União Europeia, que pode transferir os pedidos do Brasil para os Estados Unidos, tornando o país norte-americano o maior fornecedor do bloco econômico, conforme estimativa do banco.

“Isso já está acontecendo”, afirma Pedro Dejnek, sócio da empresa MD Commodities, de Chicago. “Enquanto a China concentra sua demanda ao Brasil, o resto do mundo se volta para os Estados Unidos”.