Produzir soja nunca rendeu tantos lucros aos produtores rurais brasileiros como em 2012/13. A avaliação parte de um estudo feito pela consultoria Safras & Mercado a pedido do Agronegócio Gazeta do Povo. O trabalho mostra o desempenho econômico das lavouras de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul e revela que, ao mesmo tempo em que a margem de lucratividade foi recorde, os custos de produção nunca pesaram tanto no bolso dos agricultores. Não fosse a valorização da soja no mercado internacional – impulsionada pela quebra de safra nos Estados Unidos no ano passado e por problemas com a produção sul-americana –, o resultado do ciclo poderia ter sido negativo.
Aqueles agricultores que colheram produtividades dentro da média histórica e venderam sua produção durante o período de valorização da oleaginosa no mercado, entre maio de 2012 e junho deste ano, foram os conseguiram os melhores resultados. Foi o caso dos gaúchos, que no ano passado tiveram quebras de quase 40% nos rendimentos médios das lavouras por causa de uma estiagem prolongada, mas neste ano levantaram do tombo com a maior margem de lucro entre os três estados pesquisados. Com uma média de 2,5 mil quilos por hectare (o equivalente a 42 sacas de 60 quilos por hectare) e preço médio de venda de R$ 69, o Rio Grande do Sul teve retorno de 45% dos investimentos no campo (R$ 38,43/saca). O Paraná aparece como o segundo estado com maior margem de lucro, a mesma colocação que tem na produção brasileira de soja, com 40%.
“Acho difícil ter um investimento tão rentável em um curto prazo. A valorização de um imóvel nos últimos dois anos, por exemplo, tem ficado entre 15% e 20% ao ano, ou seja, para ter essa rentabilidade seria preciso pelo menos dois anos de investimento”, comenta o analista em gerenciamento de risco da FC Stone, Étore Baroni. Ele pondera, contudo, que boa parte dos produtores rurais ainda tem uma parte da safra para vender e que muitos não conseguiram comercializar o produto em momentos de pico de preço, o que acaba diminuindo o faturamento médio.
No caso do Paraná, se considerado o preço médio de venda de janeiro a junho deste ano, calculado pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab) – de R$ 54,92 por saca –, a margem de lucro cai para 26%.
Risco
Os ganhos obtidos com a produção de soja estão diretamente ligados aos riscos inerentes à agricultura, lembra o analista da Safras, Luiz Fernando Gutierrez. “A grande variável é o clima, e não só no Brasil, mas também em grandes países produtores, como os Estados Unidos, onde são definidos os preços mundiais”, diz. Gutierrez ressalta ainda que os resultados de um ciclo interferem diretamente no planejamento da safra.
Diante dos últimos resultados e da conjuntura atual, o analista acredita que haverá redução no terreno plantado com milho no Brasil no próximo verão e aumento no da soja. “Depois dessa colheita recorde de milho, os preços caíram muito, ao contrário da soja. Se considerarmos os custos do ano passado e os preços atuais, a lucratividade do milho é negativa em estados como Mato Grosso”, cita. No Paraná, a rentabilidade estaria empatada. Até o final deste mês, a consultoria deve soltar sua primeira estimativa para plantio da temporada 2013/14 no Brasil.
26% é a margem de lucratividade do Paraná, considerando o preço médio de venda, calculado pela Secretaria de Agricultura do estado (Seab)de janeiro a junho deste ano.