Nos Estados Unidos, a super-safra de mais de 500 milhões de toneladas de soja e milho se consolidou, muito em função da estabilidade climática, que colaborou e permitiu que a tecnologia fizesse seu trabalho no campo. Agora, com os olhos do agronegócio voltados para a América do Sul, o mundo se pergunta se a região também vai bater recordes de produtividade. Até o momento, a expectativa é boa. Porém, mais uma vez, o clima será o fiel da balança.
Confira os três cenários que vão definir a safra sul-americana:
Matopiba
São três anos seguidos em que os produtores do Matopiba – a fronteira agrícola formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – não sabem o que é ter uma boa safra. Na temporada 2016/17, entretanto, tudo prometia ser diferente. Mas aí veio o clima: até o plantio, entre novembro e dezembro, as chuvas estavam colaborando, seguindo a tendência do La Niña, marcado pelo resfriamento do Oceano Pacífico e que leva mais precipitações à região. O problema é que o Oceano Atlântico também ficou mais frio e isso acabou afastando as chuvas, a partir de dezembro do ano passado. “No Oeste da Bahia, no Piauí e no Maranhão, deveria ter chovido melhor e isso não aconteceu. Agora volta a chover de uma forma mais regular no Matopiba, mas não há como saber ainda até que ponto essa falta de chuva atrapalhou ou prejudicou as lavouras daquela região”, afirma o agrometeorologista Luiz Renato Lazinski. O Matopiba é responsável por 10% da produção brasileira de grãos e, para este ano, o potencial da região é de 11,4 milhões de toneladas de soja, 3 milhões a mais que na safra passada, conforme levantamento preliminar da Expedição Safra. No entanto, o número ainda está em aberto.
Paraná
No segundo maior produtor de grãos do Brasil, o La Niña também vai ser decisivo na fase da colheita. O fenômeno está perdendo força e deve continuar assim, mas, pelos próximos dois meses, ainda vai interferir no índice de chuvas, que, até o fim de janeiro, tende a ficar abaixo no Paraná. Por um lado, isso é bom. No Oeste paranaense, por exemplo, as lavouras já estão quase prontas, então o tempo seco ajuda na colheita. “Já no Sul do estado, onde a soja é plantada um pouco mais tarde, com certeza a estiagem vai afetar o desempenho, as plantas estão numa fase mais crítica de desenvolvimento”, explica Lazinski. A previsão inicial é de que o estado produza entre 18 e 19 milhões de toneladas da oleaginosa, o que, é claro, vai depender do clima.
Argentina
No caso dos ‘hermanos’, a situação tem sido de “8 ou 80”: ou chove demais ou chove de menos. A projeção do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o Usda, é de que a Argentina colha 57 milhões de toneladas de soja, praticamente o mesmo desempenho da safra anterior. Contudo, enquanto na província de Santa Fé as chuvas vieram em excesso, ao sul de Buenos Aires o tempo anda muito seco. São quase 900 mil hectares cultivados com a oleaginosa que podem sofrer perdas totais ou parciais. Luiz Renato Lazinski afirma que as chuvas vão diminuir em toda uma faixa do sul da América do Sul, que abrange Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Argentina e Paraguai. “Para a agricultura, no Rio Grande do Sul e na Argentina é bom que isso aconteça porque choveu demais. Mas passando mais 10 e 15 dias com o calor que está, não há como saber o dano”, salienta. Economistas argentinos estimam perdas que vão de 1 a 6 milhões de toneladas. O tempo é quem vai dar a palavra final.
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