Meses após o início de uma guerra comercial que sobretaxou produtos norte-americanos na China, e vice-versa, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o da China, Xi Jinping, anunciaram ‘cessar fogo’ neste domingo (2).
Comunicado da Casa Branca informou que a “China concorda em comprar uma quantidade ainda não firmada, mas muito substancial de produtos agrícolas, energéticos, industriais e outros produtos dos Estados Unidos para reduzir o desequilíbrio comercial entre os dois países”. Mas há um país que pode sair perdendo com essa reconciliação de fim de ano: o Brasil.
TRÉGUA: Trump concorda em adiar elevação de tarifas para produtos chineses
A sobretaxa da soja dos Estados Unidos - que até o momento só entra na China com tarifa de 25% - pode ser revista. E os produtores brasileiros que estavam ganhando com isso, podem sair perdendo. Até outubro, as exportações do grão somaram US$ 199,1 bilhões do Brasil para a China, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), e pode fechar o ano a R$ 230 bilhões, o maior nível de 2013. O problema é o ano novo, se realmente os portos chineses darem boas-vindas aos norte-americanos.
“O fator positivo é a valorização da soja na Bolsa de Chicago. Mas os prêmios [pagos nos portos aos produtores] por aqui começam a cair”, indica o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Bartolomeu Braz Pereira. Atualmente, o produtor recebe US$ 1,30 aproximadamente, no Porto de Paranaguá, por bushel (aproximadamente 27,21 kg) exportado de soja, por exemplo.
“Essa trégua e provável acordo na guerra comercial é negativa para o produtor brasileiro porque vai mexer com exportações e com os prêmios”, reforça Luis Fernando Gutierrez, analista de mercado do complexo Soja da consultoria Safras e Mercado.
Cotação em alta
Na Bolsa de Chicago, os contratos para janeiro chegaram a disparar 1,8% nesta segunda-feira (3), alcançando US$ 9,23 por bushel, o maior nível de junho. Ainda que a cotação do grão tenha aumentado no início desta manhã, Gutierrez explica que a janela aberta pela trégua pode levar a China a retomar as compras dos Estados Unidos.
“A cotação deve subir nesta semana e o dólar deve sofrer certo alívio devido ao otimismo, o que tende a desvalorizá-lo frente a outras moedas”, afirma o especialista. Isso barateia o produto dos Estados Unidos e encarece o de outros países, como o Brasil. “Não vamos perder o que já exportávamos para a China [antes da guerra comercial], mas em 2019 pode tudo voltar à normalidade [de antes da guerra comercial]”, informa.
O presidente da Aprosoja é um pouco mais otimista: “Na verdade foi um ‘acordo que não definiu um acordo’. O que já existe de questões tarifárias, até agora, vai ser mantido, e nos próximos três meses eles vão buscar uma solução. Se houver mudanças realmente não seria muito bom, já que este é o ano que mais exportamos soja para a China”.
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Apesar disso, o Brasil ainda tem a chance de ganhar uma parcela do mercado. Para Monica Tu, analista de mercado da consultoria Shanghai JC Intelligence, é preciso mais para os negócios serem retomados: “Vejo poucos incentivos para os compradores chineses comprarem a soja dos EUA neste momento, a menos que a tarifa de 25% seja suspensa, ou os agricultores norte-americanos cortem ainda mais os preços”.
O ponto de peso é o fator Trump: “Com ele no Governo, a China ainda terá sempre um pé atrás. Mas devemos perder o excedente de vendas, que basicamente foi para a China em 2018”, afirma Gutierrez. O aumento das vendas de soja do Brasil para a China neste ano chegou a 20%, estima o analista da Safras e Mercado. Braz Pereira destaca que é o momento de seguir aproveitando as oportunidades: “Botar o melhor preço e esperar”, reforça o presidente da Aprosoja. Segundo ele, é melhor aproveitar o momento e aguardar definições de longo prazo.
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