Luiz Lima, de Campo Mourão, vai reduzir 50% sua área de plantio na próxima safra| Foto: Dirceu Portugal/Gazeta do Povo

Até então um quitute típico do Norte e Nordeste brasileiro, a tapioca, uma iguaria de origem indígena feita com a fécula extraída da mandioca, caiu no gosto popular e está ganhando o país.

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Sem glúten e com pouca gordura, a tapioca se transformou na mais nova ‘queridinha’ dos consumidores que buscam uma alimentação saudável e criou um novo mercado para os produtores de mandioca e indústrias de fécula.

Em 2015, 8% das 750 mil toneladas de fécula produzidas no país foram para o mercado de tapioca, um setor que até então nunca configurado nas estatísticas. Atualmente, o Paraná é o maior produtor brasileiro, com 520 mil toneladas.

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De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (Abam), o consumo da fécula deve registrar um crescimento de 30% em 2016, chegando a 70 mil toneladas. Para transformar um quilo de fécula é preciso processar quatro quilos de mandioca. “A tapioca é um mercado em crescimento. Hoje, 99% do que produzimos é consumido internamente. Mas ela tem um apelo de consumo mundial. Nós já exportamos para os Estados Unidos e países da Europa e da Ásia, mas em volumes pequenos. Perdemos apenas para a Tailândia, que tem custos muito mais baixos de produção”, explica o vice-presidente Abam, Ivo Pierin.

Mãe e filha vendem de 20 a 30 tapiocas por dia no “Kitapioca”.  

Este ano, devido à expectativa de menor produção e oferta de mandioca no segundo semestre, as fecularias intensificaram o processamento nos primeiros meses do ano e o volume de matéria-prima processado foi um dos maiores registrados desde 2006, chegando a 666,5 mil toneladas.

Para o presidente da Abam, José Eduardo Pasquini, o novo mercado é uma notícia boa para o setor, seja no campo ou na indústria, pois com um produto de valor agregado maior e com demanda é possível remunerar melhor o produtor. “Mesmo que aumente a produção vai ter mercado para destinar o produto”, explica.

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No ano passado, do total de fécula produzida no Brasil, 25,9% foi comercializada pelo setor de massa, biscoito e panificação, um crescimento de 17,9% em comparação a 2014. Para o segmento de tapioca, as fecularias comercializaram 8,3% do total produzido em 2014.

Novos negócios

Ana Paula Stemis sempre quis ter seu próprio negócio e estava em busca de uma alternativa de renda. Por isso, no início do ano, após terminar a faculdade e deixar o emprego de professora, ela abriu, em sociedade com a mãe dela, Alminda Stemis, o Kitapioca, um carrinho para vender tapiocas na porta de casa. “Estou há quatro meses no negócio. O potencial é grande. A tapioca é saudável e fácil de preparar. Além de ser uma alternativa de renda”. Elas compram todo mês de duas a três sacas de 25 kg de fécula e vendem de 20 a 30 tapiocas por dia. Por mês, faturam uma média de R$ 3 mil a R$ 4 mil.

O novo negócio também ajuda a incrementar a renda de uma distribuidora de alimentos da cidade. Segundo a assistente administrativa, Elaine de Souza, a venda de goma pronta cresceu. “Ela é vendida em pacotes de um quilo e tem grande procura entre os consumidores. Vendemos cerca de 50 quilos por mês, 40% a mais do que no ano passado“, afirma.

Com preço baixo, area é a menor em oito anos

Depois de amargar um ano de 2015 muito ruim, 2016 começou em recuperação e com a perspectiva de que o mercado possa se manter favorável no segundo semestre. “A tendência é que os preços sejam compensatórios até o primeiro semestre de 2017. A gente sabe que a oferta de mandioca não será muito grande”, explica o presidente da Abam, João Eduardo Pasquini.

No Paraná, segundo produtor nacional de mandioca, os anos ruins delimitaram a área plantada. Na safra 2015/16, houve uma redução de 8% em comparação à safra 2014/15, chegando a 131,6 mil hectares, a menor área desde 2007/08. Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), a expectativa é que a produção na atual safra não passe de 3,72 milhões de toneladas, contra 3,96 da safra passada. “Além dos preços abaixo do custo, a limitação de crédito, o alto juro e a restrição dos bancos para empréstimo são fatores que também desestimulam”, afirma .

Em 2015, a tonelada chegou a R$ 130, mas com a redução na área, baixa oferta e demanda crescendo, o preço chegou a R$ 300 . “A gente não acredita em um grande plantio porque o produtor está descapitalizado”, explica.

É o caso de Luiz Lima, produtor de Campo Mourão, que reduziu 50% da área. “O custo de produção é muito alto e sem garantia de preço mínimo fica difícil manter a área. Em 2013 o preço era de R$ 700 e em 2015 caiu para R$ 140. Eu estou segurando a minha colheita à espera de preços melhores. Uma alternativa é aumentar a exportação para ter demanda”, explica Lima.