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Tecnologia da Embrapa possibilita produção de até quatro safras por ano

Ao integrar as atividades, evita-se a necessidade de desmatamento de novas áreas para o aumento da produção | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Ao integrar as atividades, evita-se a necessidade de desmatamento de novas áreas para o aumento da produção (Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo)

O desenvolvimento de novas tecnologias aplicada na agricultura tem permitido que em uma mesma área sistemas integrados produzam até quatro safras por ano. Desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), os sistemas de integração envolvem a produção de grãos, fibras, madeira, energia, leite ou carne, em plantios em rotação, consórcio e/ou sucessão.

A técnica funciona basicamente com o plantio, durante o verão, de culturas agrícolas anuais como arroz, feijão, milho, soja ou sorgo e de árvores, associado a espécies forrageiras (braquiária ou panicum). As combinações são variadas entre os componentes agrícola, pecuário e florestal e levam em consideração espaço e tempo disponíveis.

“Essa é a maior revolução dos trópicos, do cinturão tropical do mundo todo. Porque ela não é uma simples tecnologia, é um complexo tecnológico de fácil aplicação e entendimento, que permite recuperar áreas degradadas com alta sustentabilidade. Este é o sistema de integração: recuperação de áreas degradas, produção sustentável, quatro colheitas por ano que dependem apenas de chuva”, explica o pesquisador da Embrapa Cerrados João Kluthcouski, um de seus criadores.

Ao integrar as atividades, evita-se a necessidade de desmatamento de novas áreas para o aumento da produção. A tecnologia resulta em diferentes sistemas integrados, como lavoura-pecuária-floresta (iLPF), lavoura-pecuária (iLP), silvipastoril (SSP) ou agroflorestais (SAF). A técnica de integração aceita todas as espécies vegetais, em áreas de a partir de 1 hectare de terra. “A tecnologia é capaz de dobrar a produtividade, quintuplicar a produção de pecuária sem alteração de custo e sem abertura de novas fronteiras agrícolas”, disse o pesquisador.

Além disso, os sistemas integrados diminuem a necessidade do uso de agrotóxicos na produção e atuam em variações de clima e temperatura de maneira mais segura. “Sistemas integrados em oposição a sistemas únicos ou uso massivo de uma espécie só, eles são sistemas naturalmente mais resilientes. Esses sistemas mantém uma vida biológica extremamente mais diversificada, isso facilita por exemplo, abrigo para inimigos naturais de pragas, o que não se encontra, geralmente, em grandes culturas. Você elimina o abrigo para aqueles que seriam os inimigos naturais das pragas. Quando se tem um sistema mais diversificado, aumenta a probabilidade de você ter abrigo e proteção para inimigos naturais”, explica o presidente da Embrapa, Maurício Lopes

Pecuária

Segundo Lopes, o sistema representa um “novo paradigma de produção” da agricultura e pecuária brasileiras. A estatal trabalha no desenvolvimento de métricas que permitirão, ao associar a tecnologia de integração, o rastreamento da produção e a certificação da carne brasileira, em um sistema de chamado “Carbono Zero”.

“Quando se cria uma métrica e um processo de rastreabilidade para a carne inserida num processo como esse, onde se tem soja, milho, árvore, pasto, o que acontece é que o sistema faz um ‘off-set’ da emissão de metano. A Embrapa já tem dados seguros mostrando que é perfeitamente possível, quando se computa o carbono, que é incorporado pela pastagem, pelas lavouras”, explica Lopes.

Lopes ressalta ainda que o desafio é a falta de informações do produtor rural e o estímulo para adoção do sistema. Segundo o presidente, a Embrapa tem atuado na adaptação de modelos para média e pequena propriedade. Nestes casos, as possibilidades de integração são mais diversificadas, mas ainda desconhecidas por parte dos agricultores.

“Com este sistema nós estamos mudando o conceito tradicional de sustentabilidade, que era o seguinte: use os recursos naturais de forma inteligente, segura e garanta que ele esteja bom para os seus filhos. Nós estamos trabalhando um outro conceito de sustentabilidade, vamos entregar um produto muito melhor para os nossos filhos. A gente está construindo estoques de carbono no solo”, afirma.

Para o o presidente da empresa de máquinas agrícolas John Deere Brasil e da Rede de Fomento à Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), Paulo Herrmann, a mudança de paradigma como obstáculo para o uso da tecnologia no país. “A maior dificuldade é a quebra de paradigma, não é a dificuldade da pessoa em fazer. É ela colocar na cabeça que pode plantar duas coisas ao mesmo tempo sem ter prejuízo de produtividade. De uma maneira geral, não estamos preparados para esse tipo intensivo de trabalho”.

Benefícios

Segundo Herrmann, do ponto de vista ambiental, a tecnologia é um avanço em relação ao que se tem hoje. “Temos o solo coberto, sempre há vegetação, vai ter menos emissões de carbono o tempo todo, menos aquecimento global. Se consegue produzir a mesma quantidade de elementos, de produtos, que você faria num sistema convencional, numa área seis vezes menor, com 55% menos emissões [de gazes]”, aponta.

Hermann também destaca o benefício social da tecnologia. “Como se trata de uma atividade mais intensa, se passa a ter uma atividade ao longo do ano e isso fixa mão de obra, gera mais emprego porque é mais intensiva, tem que ter mais gente especializada para trabalhar com máquina, com a parte de gado”.

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