O agronegócio começa a bater o martelo sobre a intenção de plantio da próxima safra com um nó na garganta. A crise internacional carrega risco de queda nos preços das commodities e pode reduzir a renda da próxima temporada. Internamente, as discussões sobre a legislação ambiental acirram ânimos e mostram que parte da sociedade ainda não reconhece a importância do campo para o desenvolvimento do país.
Na última semana, o setor mostrou que está disposto a fazer sua parte. A Coamo, maior cooperativa de produção agrícola da América Latina, confirmou que seus associados vão cultivar 1,62 milhão de hectares com soja e 187,3 mil hectares de milho, aproveitamento igual ao do ano passado, quando a oleaginosa garantiu safra recorde. À medida em que o início do plantio de verão se aproxima (15 de setembro), outros grupos de produtores devem seguir o exemplo. Mesmo com um grito de protesto preso no peito.
Nem a crise nem a indefinição em relação à legislação devem suspender o avanço na produção de alimentos, que sustenta o saldo positivo da balança comercial brasileira há uma década. Em relação ao risco de queda nas cotações (e também de quebra climática), o que o produtor pode fazer é contratar seguro. Neste ano, como houve corte nas subvenções, esses contratos se tornaram muito caros. Outra estratégia é a contratação de hedge, como mostra a edição de hoje do Caminhos do Campo.
Já em relação à legislação ambiental, o possível vem sendo feito para mostrar a deputados e senadores que o setor produtivo não precisa derrubar florestas nem tirar vantagem da poluição dos rios. Pelo contrário, a atividade depende decisivamente da preservação ecológica para ser sustentável. Porém, o produtor não deve ser penalizado por critérios ou determinações que desconsiderem a realidade do campo, e que igualem todos a quem degrada a terra e a vegetação, sem qualquer consciência ambiental.
Se não conseguir ser ouvido e compreendido pela sociedade, o setor pode ter um ano de trabalho árduo e sob muita pressão. Por enquanto, mostra-se capaz de agir de forma coerente, disposto a fazer o melhor que pode, com ou sem reconhecimento.