Trigo tem boa safra, mas perde preço em 2014.| Foto: Anta´nio Costa/arquivo/ Gazeta Do Povo

A safra recorde de trigo está rodeada de ameaças no Sul do Brasil. Responsáveis por mais de um terço da produção nacional, as lavouras da região já enfrentaram excesso de umidade, seca, geada e ainda correm o risco de sofrer mais com chuvas acima da média nos próximos meses. Apesar do cenário desfavorável, as projeções oficiais ainda indicam que o país vai colher volume recorde do produto: 7,4 milhões de toneladas -- 21% acima do último teto alcançado pelo Brasil em 1987, quando foram colhidas 6,1 milhões de toneladas. Mas ainda há muito chão pela frente. No Paraná, quase metade da área destinada ao cereal está em desenvolvimento vegetativo e no Rio Grande do Sul o plantio acaba de ser encerrado.

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Técnicos consultados pela reportagem se mostraram cautelosos quanto a uma possível redução nas estimativas de safra. No campo, os problemas são diversos e há quem desistiu de apostar na cultura.

Cornélio Procópio (Norte Pioneiro), que corresponde a 10% da área plantada no estado (132,3 mil hectares), é a região mais prejudicada pelo clima. A causa é a falta de água. “Foram quase 30 dias sem chuvas nessa região, pegando também Jacarezinho”, aponta o agrônomo da Se­­cretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), Carlos Hugo Godinho.

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No Oeste paranaense, o cenário é oposto. Houve excesso de precipitações que foi seguido de um período de estiagem em julho. A região, com 177 mil hectares plantados, tem 13% da área total semeada. “Teremos algum problema pontual, mas eles podem ser compensados ou diluídos no total do estado”, explica Godinho. “Se houver revisão, ela estará dentro da margem de erro de 5% que nós adotamos. Ainda não dá para considerar como quebra”, completa.

A Seab estima que o Para­­ná colherá uma safra de 4 milhões de toneladas de trigo em 2014/15, um aumento de 112% em relação à temporada passada.

Rio Grande do Sul

A postura cautelosa sobre a revisão das projeções de safra também é adotada pela Emater-RS, mesmo o estado tendo sido o mais afetado pelas chuvas do que o Paraná. Parte das lavouras foi destruída e precisou ser replantada fora do zoneamento agroclimático ideal, que foi estendido para que os produtores prejudicados pudessem concluir o planejamento do ano. A semeadura dos 1,1 milhões de hectares gaúchos destinados ao trigo está 97% concluída.

De acordo com os técnicos gaúchos, as baixas temperaturas, combinadas com boa luminosidade solar nas últimas semanas, beneficiaram o desenvolvimento vegetativo da cultura. As lavouras estão menos suscetíveis à doenças e os produtores têm investido na adubação para recuperar as falhas causadas pelas enxurradas.

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“Dentro desse cenário, técnicos e produtores têm preferido manter cautela em relação às alterações de produtividades das lavouras”, diz o último relatório da entidade.

Queda no preço faz produtor reduzir plantio de trigo

Além do clima, a perspectiva de preços ruins até a entrada da colheita brasileira também desestimula os produtores de trigo. No Paraná, a desvalorização do produto no último mês levou o agricultor Anderson Caio Taques Moreira, de Castro (Campos Gerais) a reduzir em 50% as apostas na área destinada à cultura em sua propriedade. “Ia plantar 600 hectares, mas só plantei 300”, revela.

Há 15 anos na triticultura, o produtor se mostra desanimado com os problemas de liquidez no mercado do cereal. Ele não ainda conseguiu vender 600 toneladas do produto que restou da última safra, mesmo com uma oferta de venda R$ 100 abaixo do praticado atualmente no mercado. “Não há comprador nem se eu quiser vender a tonelada por R$ 600. Os moinhos estão fechados. Vai ser um caos quando chegar a nova colheita”, prevê.

Porta aberta

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Para ele, as dificuldades têm relação com a isenção da Tarifa Externa Comum (TEC), de 10%, para a importação de trigo de fora do Mercosul. “O trigo é sempre um pepino na hora de vender. A safra vem cheia e o governo não ajuda”, reclama Moreira. De janeiro para cá, os preços do produto acumulam queda de 14% no Paraná, conforme levantamento da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento (Seab). No início do ano, a saca valia em média mais de R$ 41. Ontem, foi cotada a pouco mais de R$ 35.