Às vésperas do início do plantio da nova safra de trigo, que começa em abril, a área dedicada ao cereal no Paraná, o maior produtor brasileiro, com mais da metade da produção, deve cair 11% em relação ao ano passado, de 1,3 milhão de hectares para 1,19 milhões de ha. Os dados são do Departamento de Economia Rural (Deral), órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná.
O clima, a dificuldade de acesso ao seguro agrícola, os elevados custos de produção, o baixo interesse dos moinhos pelo trigo nacional e, principalmente, a concorrência com o milho safrinha, cultivado na mesma época, são alguns dos motivos que explicam a possível queda na área de plantio.
Em Campo Mourão, no Centro-Oeste do Paraná, os agricultores Vicente e João Mignosso pretendiam cultivar 145 hectares de trigo, mas o atual preço do milho, cotado a R$ 32 por saca (60 quilos), fez os dois mudarem de ideia. “Os custos de produção, o preço de balcão do trigo e o risco de geada influenciaram na escolha pelo milho. Ultimamente, plantar trigo é cobrir custos”, dizem os irmãos, que na safra passada tiveram prejuízos e colheram menos da metade do que plantaram.
Brasil vai trazer matéria-prima de fora
Em 2015, o Brasil produziu um volume bem abaixo do esperado, aproximadamente 6 milhões de toneladas, para um consumo que supera a marca de 10 milhões de toneladas. Para dar conta da demanda, foi necessário importar 4,5 milhões de toneladas. Os principais exportadores para o Brasil foram Argentina e Paraguai, que além do preço mais competitivo em relação aos Estados Unidos, conseguiram produtos de maior qualidade que os brasileiros.
A partir deste mês, os estoques nacionais de trigo começaram a baixar. Até que a próxima safra brasileira seja colhida, em setembro, o Brasil vai continuar importando. Estimativas apontam para 5,5 milhões de toneladas.
Só em fevereiro, o Paraguai exportou 78 mil toneladas de trigo ao Brasil, seis vezes mais do que o exportado pelos Estados Unidos. De acordo com o analista Luiz Carlos Pacheco, em toda a temporada, que começou em agosto do ano passado e vai até julho de 2016, as exportações paraguaias serão de 638 mil toneladas. “Foi a melhor safra de todo o Mercosul”, afirma Pacheco.
Marcelo Vosnika, presidente do Presidente do Conselho Deliberativo da Abitrigo, conta que está mais barato comprar fora do que aqui. “No Paraguai, por exemplo, o trigo sai por R$ 720 a tonelada, enquanto aqui ele custa R$ 750”, afirma. No entanto, ele lembra que tudo depende da cotação da moeda americana. “As recentes incertezas em relação ao dólar é o que mais preocupa os moinhos”, diz.
O produtor Carlos Alberto Tomaz, também de Campo Mourão, fez a mesma opção e optou pelo milho nesta safra. Ele conta que está otimista com os preços do cereal e que, em 2015, o trigo não rendeu o quanto ele esperava. “O problema está na hora de vender. O trigo não tem preço. Com a saca de milho nestes patamares, e com expectativa de alta, não tem como não investir”, afirma.
De acordo com o agrônomo Carlos Hugo Godinho, do Deral, devido à produtividade superior do milho, os preços de trigo deveriam estar aproximadamente 1,8 vezes acima dos valores atuais para que a rentabilidade entre as duas culturas se equivalesse. A relação atual de 1,2 entre os preços torna o milho o favorito. “O preço do milho subiu bastante. E a produtividade da cultura também é maior. Em áreas sem muita aptidão climática para o trigo, será mais fácil trocar uma cultura por outra”, diz. Atualmente, o trigo sustenta uma cotação média de R$ 38 a saca de 60 quilos.
Produtividade
Apesar das expectativas em relação à redução de área na próxima safra de trigo, o analista da Consultoria Trigo & Farinhas, Luiz Carlos Pacheco, diz que ainda é cedo para conclusões precipitadas. Ele afirma que o clima, grande vilão da última safra, vai garantir aumento de produtividade neste ano. Os dados do Deral estimam uma colheita de 3,6 milhões de toneladas em 2016, 10% a mais que no ano passado. “Todos os institutos de meteorologia apontam para um clima ideal, chuva no plantio e tempo seco na maturação e colheita. O clima não só vai garantir aumento de produtividade, mas um trigo de boa qualidade”, diz.
Segundo Pacheco, por estar numa posição estratégica, o trigo paranaense vai abastecer os mercados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás e por um bom preço. “O trigo vai sofrer redução de área na Europa e nos Estados Unidos. No médio, longo prazo, os preços vão subir. Não vão explodir, mas será lucrativo para o produtor”, explica.
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