Contrariando as previsões iniciais, que previam a possibilidade da produção de trigo romper a marca de 4 milhões de toneladas no Paraná, o estado terá uma colheita frustrada. Após o avanço das máquinas sobre 50% das lavouras, a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) aponta que o estado terá perdas de 10%, tendo a produção reduzida a 3,6 milhões de toneladas neste ciclo. Com menor oferta, o preço do pão e demais produtos dependentes da farinha do cereal continuarão pressionados no Brasil.
Nem mesmo o recorde da temporada passada -- 3,8 milhões de toneladas -- será batido. “Esperava-se que as produtividades das lavouras colhidas em setembro fossem melhores que as colhidas em agosto, porém isto não se confirmou”, diz a entidade, em relatório divulgado ontem. O principal problema ocorre no Oeste paranaense, onde as perdas médias já chegam a 20%.
Na continuidade da colheita o clima terá papel decisivo no desempenho do cereal. O fenômeno climático El Niño promete mais chuvas durante a primavera, podendo afetar a qualidade do grão. Por enquanto o excesso de água não foi problemático “pois o maior volume de precipitações previsto para o final do inverno não se confirmou”, indica a Seab.
Pressão no consumo
O Paraná é líder na produção nacional de trigo, tendo sido responsável por 63% da oferta nacional no ano passado. Logo atrás aparece o Rio Grande do Sul, com 25% de participação. Além das perdas no Paraná, os campos gaúchos tem o desempenho pressionado pelas fortes chuvas que assolam o estado, bem como a ocorrência de geadas em importantes regiões produtoras. Como a Gazeta do Povo mostrou na última terça-feira (22), o problema dos dois estados tende a reduzir a safra nacional, ampliando a demanda por importações.
O quadro tende a encarecer o preço da farinha em regiões mais distantes do Sul do país, ampliado a pressão sobre os preços de produtos derivados como trigo, macarrão e bolachas.
Demanda pontualA Seab aponta que produto que está chegando ao mercado tem forte demanda. Do total produzido no Paraná, 172 mil toneladas foram negociadas antecipadamente, e outras 442 mil toneladas foram vendidas nos meses de agosto e setembro. O índice está bem acima do registrado no mesmo período do ano passado (292 mil toneladas) e da média dos últimos cinco anos (251 mil t).
Ainda assim, a rentabilidade dos produtores deve ser pressionada. O valor médio pago pela saca de 60 quilos do cereal em agosto foi de R$33,59, montante abaixo do mínimo fixado pelo governo federal (R$34,99/saca).
71%dos 675 mil hectares de trigo a colher no Paraná apresentam condição boa. No início da colheita o índice era de 80%, indica a Seab. Queda na qualidade pode pressionar para baixo o resultado da safra estadual.