Se por um lado 2016 foi praticamente o “ano do trigo”, com novo recorde mundial de produção, os produtores do Sul do Brasil vem colhendo problemas após a “safra espetacular” do ano passado. O alto cultivo global derrubou os preços.
O produto paranaense teve queda de 20% no valor do 1º trimestre comparado mesmo período ano passado, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado do Paraná.
Em 2016, o valor de março era de R$ 39,40 por saca. Já em 2017, ficou em R$ 31,73. Em toneladas isso representa uma diferença de R$ 231 - R$ 660 contra R$ 429. “Foi um ponto fora da curva. Nunca houve uma média de produtividade tão alta”, explica Hugo Godinho, analista de trigo do Deral.
Apesar disso, o analista Luiz Carlos Pacheco, da consultoria Trigo & Farinhas, lembra outras funções do trigo: movimentar e adubar o solo para o plantio da soja, para evitar a queima de nutrientes do solo.
“Se você considerar preço da saca pelo preço de custo, o produtor teve prejuízo. Mas não é essa a conta certa. O cálculo de custo de lavoura usa rendimento de 48 sacas por hectare, e ninguém produziu menos que isso. Alguns colheram entre 70 e 90 sacas. Isso é mais lucro que a soja, por conta da produtividade e não do preço em si”, comenta.
Concorrência acirrada
Elcio Bento, analista da consultoria Safras e Mercado, observa três motivos para a diminuição do preço: a produção global, a concorrência de países vizinhos e o câmbio. Ele explica que, com o real valorizado e o dólar 15% mais baixo, fica mais barato importar trigo da região do Mercosul do que comprar o próprio trigo brasileiro.
“Além do mundo com os maiores estoques da história, a Argentina teve uma das maiores safras. A política de desvalorização [do peso argentino] e a alta qualidade favoreceram a produção e as exportações do país para o Brasil”, afirma.
Redução do plantio
Uma das consequências é o menor plantio, que começa neste trimestre. No Paraná, o Deral estima redução da área de produção de trigo de 1,1 milhão de hectares para 1,05 milhão – cerca de 5%. A Safras e Mercado projeta queda de 8%.
Dessa maneira, outras culturas “entram na terra”. “Normalmente o trigo perde espaço para o milho safrinha, que deve ganhar 150 mil hectares, mas também pode ser plantada aveia”, exemplifica Hugo Godinho.
A plantação dessa segunda safra de milho é uma vantagem em relação ao Rio Grande do Sul, que não tem essa possibilidade, segundo Bento. “É preciso produzir centeio, aveia ou abrir para pastagem”, comenta.
Já no Paraná, a produção do “safrinha” deve crescer 35%, com rendimento até 25% maior, na avaliação do Deral para a safra 2016/17.