O último plantio de inverno foi de derrocada para o trigo no Paraná. Insatisfeitos com os baixos preços pagos e as dificuldades de comercialização, agricultores deixaram o cereal de lado, reduzindo drasticamente a área plantada. O resultado foi uma compressão na oferta do produto, amplificada pela quebra na safra de importantes países produtores como Rússia e Ucrânia. Agora, na entressafra brasileira do cereal, os efeitos desse cenário se acentuam, e podem ser notados nos preços. A cotação da saca de 60 quilos chega a picos de R$ 47 em algumas regiões do Paraná – um patamar que não era atingido desde meados de 2008. O cenário anima quem ainda tem produto para vender, mas não assegura a expansão da área plantada. A concorrência com o milho safrinha, também cultivado no inverno, ainda deixa em aberto às perspectivas do trigo. E ainda há a Tarifa Externa Comum (TEC) no caminho do cereal.
No Paraná a área caiu de 1 milhão de hectares para 776 mil, reduzindo a oferta do produto em 13%, para 2,1 milhão de toneladas em 2012. Como a capacidade de processamento das indústrias no estado é superior a 3 milhões de toneladas, a importação mais uma vez foi necessária. O problema, explica Modesto Daga, produtor e consultor em trigo em Cascavel (Oeste), foi o comprometimento das lavouras de importantes fornecedores externos, fato que afetou as cotações. “Poucas pessoas ainda têm trigo para vender, pois a maior parte já negociou para pagar os custos. Há uma deficiência de oferta no mundo todo e os países estão regulando a exportação”, avalia.
O produtor Luciano Agottani, de Palmeira, nos Campos Gerais, acreditou na cultura na última safra e agora pretende aproveitar o quadro favorável para obter melhores preços. “Estou avaliando o mercado, mas logo devo vender, pois o preço está bom”, relata. Ele ampliou a área de 120 hectares para 400 hectares e planeja aumentar as apostas.
Indefinição
Apesar dos bons preços, os analistas ainda não conseguem definir se a área do cereal vai conseguir recuperar espaço, devido a concorrência com o milho safrinha. Para o consultor da Trigo e Farinhas, Luiz Carlos Pacheco, “há campo para os dois [cereais]”, resume.
Daga confirma que no Oeste paranaense existem produtores planejando a ampliação das áreas cultivadas dos dois grãos. “O trigo acaba sendo a escolha de muitos devido à liquidez e a vantagem na cobertura do solo”, destaca. Na avaliação de Pacheco, mesmo que a produção aumente, a demanda será garantida. “O trigo paranaense atende a indústria local e vai para estados como São Paulo, Minas Gerais e outros, além do exterior”, explica.
TributaçãoSetor vive impasse quanto às importações
O cenário de reduzida oferta mundial do trigo tem deixado os moinhos preocupados com a falta do produto. A importação de países parceiros no Mercosul tem sido a alternativa para evitar a ociosidade da indústria, mas, neste ano, o suprimento dos vizinhos pode não ser suficiente.
Diante desse cenário, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), negociou com o governo a isenção da Tarifa Externa Comum (TEC), taxa de 10% que incide sobre o produto importado de fora do bloco sul-americano. Na última quarta-feira, o Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex) anunciou que está autorizada a compra de até 1 milhão de toneladas do cereal fora do Mercosul, sem a incidência da alíquota. A determinação vale entre os meses de abril e julho.
A medida, que visa reduzir os custos da indústria, preocupa os produtores, que temem encarar preços baixos quando a colheita nacional recomeçar, devido a uma pressão de oferta maior. A Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) e a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) são contrárias à isenção. “Os triticultores estão descrentes com a cultura e, agora, que eles têm um incentivo de preço para plantar, podem acabar mudando de ideia”, avalia Nelson Costa, superintendente adjunto da Ocepar. “Pode ainda ocorrer da indústria fazer estoques com o produto importado e travar o mercado interno”, acrescenta. Marcelo Vosnika, presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado do Paraná (Sinditrigo), explica que o objetivo é apenas garantir o fornecimento durante a entressafra. “As opiniões não são divergentes entre a indústria e os produtores. Enquanto houver produto disponível, não precisamos da isenção, mas depois de março não vai haver mais trigo nacional no mercado”, afirma. Sobre a possibilidade de formação de estoques com produtos importados, Vosnika sustenta que, além das limitações de volume estabelecidos pelo governo, o preço do trigo estrangeiro inviabiliza a importação.
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