Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Arquivo

Triste outono

Na estação em que o frio começa a chegar no Paraná, não são apenas as flores das árvores que caem. Os preços da soja negociada no segundo maior produtor do Brasil também costumam cair nessa época do ano. Em dólares e em reais. Com oferta e demanda mais ou menos equilibradas, os preços cotados na moeda norte-americana sofrem a pressão da sazonalidade negativa da cotação em Chicago, movimento que pode ser quebrado para cima com uma frustração de safra – como a ocorrida no Rio Grande do Sul no ano passado – ou acentuado para baixo por causa do quadro de superoferta e pouca procura, como o atual.

Os preços em reais normalmente vão no embalo do que acontece em Chicago, mas também há fatores que podem levar ao caminho inverso. O câmbio entre março e abril de 2001, por exemplo, jogou a favor do produtor paranaense e uma desvalorização de apenas R$ 0,11 foi suficiente para a saca de soja negociada em Cascavel passar de uma média de R$ 16,87 em março para R$ 17,13 em abril, enquanto em dólares o valor caía de US$ 8,06 para US$ 7,80.

O que torna esse primeiro quarto do ano um triste outono para o produtor paranaense é o fato de os preços terem caído em dólares e reais entre fevereiro a abril. Na média em dólares, os valores passaram de US$ 12,39 para US$ 10,81, enquanto em reais o preço caiu de R$ 26,80 para R$ 23,13 por saca. A diferença é considerável e, quando outros fatores são colocados em jogo, o drama para quem produz aumenta.

Para não falar em temas como o caro custo de transporte da safra para os portos de embarque, a ameaça de queda na demanda por conta do avanço da gripe aviária e a perspectiva de mais uma grande safra de soja nos EUA, basta lembrar que, pela terceira temporada consecutiva, os produtores paranaenses estão encarando uma quebra de produção. Neste ano, segundo os dados do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura do Estado, a quebra vai ficar em 20,9%. A produção foi reduzida de 11,74 milhões de toneladas no início da safra para os atuais 9,28 milhões, volume que resulta de uma produtividade média de 39,9 sacas por hectare – número praticamente em linha com o estimado pela AgRural (40 sacas por hectare).

Com tanta coisa ruim acontecendo logo no primeiro semestre, a esperança do produtor passa para segunda metade do ano. Apesar de, por enquanto, o cenário para frente também não ser dos melhores, uma coisa é certa: haverá mudança de estação. E, talvez, o produtor possa fazer como o compositor Cassiano e cantar que finalmente é primavera.

fmuraro@agrural.com.br

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.