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Os últimos dados do mercado de energia deixaram os investidores com uma série de dúvidas. Os especialistas e o governo brasileiro lançam avaliações que esfriam os ânimos e tentam controlar a empolgação em setores como o da cana-de-açúcar. As tendências esperam confirmação nas próximas semanas, quando todos estarão atentos aos preços do petróleo e à evolução das exportações de álcool. O que ficou claro é que o etanol ainda não tem caminho livre.

É preciso que a energia continue em alta e que o mercado internacional defina suas apostas para que projetos alternativos ao petróleo ganhem viabilidade, afirma Ivan Tomaselli, diretor da STCP Engenharia de Projetos, empresa de consultoria, engenharia e gerenciamento com sede em Curitiba.

Especialistas como o economista Daniel Yergin, uma das maiores autoridades quando o assunto é energia, continuam seguros de que, em 2030, 20% da frota mundial de veículos seja movida a biocombustíveis. Por outro lado, ele não arrisca uma previsão sobre a direção ou o retorno dos investimentos. Ou seja, considera que o momento é de indefinição, e que o Brasil precisa negociar muito para que o álcool – o substituto mais competitivo do petróleo – conquiste seu espaço.

O quadro interno também causa tensão. A produção de álcool teria aumentado a ponto de colocar a renda do setor em risco, num momento em que o real ganha valor frente ao dólar. O aumento de 11,2% na produção de cana-de-açúcar deve elevar mais a produção de combustível (14,54%) que a de açúçar (3,6%), de acordo com avaliação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para que os preços se mantenham diante de tanta produção, é preciso que as exportações – que atingiram 510 mil toneladas no primeiro quadrimestre, 65% a mais que no ano passado – continuem crescendo. Mais do que isso, é preciso que o álcool compense a redução das exportações de açúcar, que caíram 11% em maio, com rendimento de US$ 14,82 bilhões, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

O setor torce ainda pelo aumento do consumo interno, com a elevação da adição de álcool à gasolina de 23% para 25%, que passa a vigorar a partir de domingo. Outra dose de alívio é a esperada venda de veículos flex, que aumentou em maio, quando entraram em circulação 167.689 carros bicombustíveis, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O número é 20% maior que o de abril e 41% superior ao de maio de 2006.

Diante de tantos riscos, como ficam os projetos de produção de etanol a partir de mandioca, milho e beterraba? E os de produção de biodiesel de óleos vegetais? Mesmo sem respostas para essas perguntas, os analistas entendem que será preciso uma crise do petróleo como a da década de 70 para justificar os novos investimentos. O temor é de que não haja tempo para desenvolver tecnologia que garanta a substituição do combustível fóssil sem traumas à economia.

Para defensores da "energia limpa" como o engenheiro agrônomo Antônio Rossafa, diretor de Gestão da Copel, a tendência é clara. Mais cedo ou mais tarde o uso do petróleo terá de ser reduzido e o Brasil pode ocupar esse espaço. As principais apostas do país estão sendo lançadas na produção de etanol de cana (pelo preço competitivo do álcool) e biodiesel de soja (pelo fato do grão ser tecnologicamente mais desenvolvido que outras fontes de óleo). A vantagem, analisa Rossafa, não está só na geração de recursos, mas na substituição de um sistema de geração de energia vertical por outro mais democrático, em que as usinas gerem renda a um número bem maior de pessoas, incluindo produtores de cana, soja, milho, girassol, mamona, amendoim, algodão e dendê.

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