A imagem de um profissional cujo conhecimento vem exclusivamente da lida com a terra há muito não representa a realidade dos engenheiros agrônomos, que comemoram neste 12 de outubro o seu dia. Cada vez mais a profissão tem se tornado uma área de múltiplos conhecimentos, influenciada pela biotecnologia, automação e informática de ponta.
Isso fez com que o campo de atuação do agrônomo se expandisse, envolvendo áreas como engenharia rural, irrigação e drenagem, produção vegetal de pequenas ou grandes culturas, produção animal, melhoramento animal e vegetal, recursos naturais, agrometeorologia, defesa sanitária, prescrição de receituário agronômico, alimentos e transformação de alimentos.
“Hoje você precisa ter noções de robótica, automação, biotecnologia, agricultura digital, internet das coisas, entre outras inovações. E também tem que estar antenado com as tendências do consumidor, o que ele pensa e exige em relação aos alimentos. Ele quer consumir um produto seguro, nutritivo e barato”, diz Almir Gnoatto, coordenador da Câmara Especializada de Agronomia do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR).
Outro exemplo de desafio para esse novo profissional está na produção agropecuária diante de um cenário de escassez de recursos hídricos, mais a necessidade de abastecer a população majoritariamente urbana. “O engenheiro agrônomo é o profissional com formação necessária para aumentar a produtividade com qualidade e uso eficiente dos recursos hídricos”, diz Kleber Santos, coordenador nacional das Câmaras de Agronomia do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea).
A profissão de engenheiro agrônomo é regulamentada pelo Decreto nº 23.196, de 12 de outubro de 1933. Mas a atividade remonta ainda ao tempo do império, quando foram criados os Institutos Imperiais de Agricultura, que mais tarde evoluíram e formaram as primeiras escolas de agronomia, depois transformadas em faculdades. Desde o início, o objetivo da profissão é o mesmo: desenvolver cientificamente a agricultura no país, explorando de forma racional o uso da terra.
Realidade modificada
Para Gnoatto, que também é professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) no campus de Dois Vizinhos, os novos desafios da agronomia decorrem das mudanças da própria realidade, potencializada pela agricultura digital, robótica, automação, biotecnologia, nanotecnologia, internet das coisas, big data, entre outras inovações.
“Apesar de a formação básica proporcionar condições para amplo exercício profissional, evidentemente que as inovações tecnológicas e de gestão demandam mais do engenheiro agrônomo em áreas como agricultura de precisão, biotecnologia e cooperativismo”, explica Santos. Contudo, a necessidade do agrônomo é crescente em decorrência de processos de urbanização, segurança alimentar e qualidade do meio ambiente. “Podemos citar como áreas de destaque no futuro próximo a biotecnologia e a infraestrutura verde nas cidades, na implantação de paisagismo, parques, jardins e arborização urbana”, diz.
Atualmente, existem no Brasil 104.967 profissionais com registro específico de engenheiro agrônomo no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), conforme dados disponibilizados no site da entidade. No Paraná, de acordo com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-PR), há 14.969 agrônomos atuando no Paraná (12.968 são homens e 2.001 são mulheres).
Do alto de seus 25 anos de profissão, Gnoatto explica que um bom profissional precisa estar sempre estudando para se aprimorar em relação à tecnologia e às novas tendências de mercado e de pesquisa. “As universidades, de modo geral, precisam reavaliar os seus currículos, reforçando essas áreas de tendência”, diz. A expectativa é que o perfil do mercado de trabalho também mude, segundo ele. Em vez de buscar emprego em grandes e cooperativas, o profissional do futuro será empreendedor, investindo em startups e empresas voltadas para a agricultura 4.0.
Visita ao produtor
Mas apesar de toda a tecnologia, a visita e orientação ao produtor rural continua essencial para as atividades agropecuárias. “O profissional é insubstituível. É ele que no final das contas toma a decisão, orienta. E isso é algo que não mudou com as novas ferramentas de tecnologia”, afirma Silvia Capelari, agrônoma da Unidade Municipal de Marialva do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR).
Mesmo sendo 10% do total do número de agrônomos, as mulheres estão conquistando espaço na profissão, com a inclusão cada vez maior em áreas como a de pesquisa, por exemplo. Apesar disso, Silva diz que ainda há cooperativas que relutam em contratar mulheres. “O preconceito não é do agricultor, mas sim dos próprios colegas”, afirma.
A agrônoma, que se formou em 1991, diz que a capacitação acadêmica dos estudantes de agronomia hoje melhorou em relação ao passado, mas precisa evoluir em aspectos que não são necessariamente tecnológicos. “O que precisamos é aprimorar a formação humana. Lembrar que por traz de uma produção agrícola existe uma família de agricultores, que vive da terra”, explica. Além disso, o profissional precisa ter um perfil comunicativo, estudar muito e entender que a agronomia é uma ciência que depende, sobretudo, de equilíbrio entre prática e teoria.
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