O estado não tem tradição no uso da aviação agrícola, ferramenta que, em tese, seria viável para utilização em grandes propriedades, como ocorre em Mato Grosso. O estado não tem mais do que 50 aviões pulverizadores, enquanto o Centro-Oeste abriga mais da metade da frota, estimada em pouco mais de 1,2 mil aeronaves, conforme dados do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), de 2006.
Do ponto de vista estrutural, a participação do Paraná nesse segmento seria insignificante, não fosse um esforço acadêmico que transforma o estado num pólo de qualificação de mão-de-obra do setor. Criado há três ano, o Núcleo de Aviação e Tecnologia Agrícola (Nata), da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), com sede em Guarapuava, tem atraído a atenção e alunos de praticamente todo o país.
A instituição de ensino não está ancorada no histórico ou referências do Paraná na área, mas na crescente demanda do mercado por profissionais com formação específica. O curso superior de Mecânico de Manutenção de Aeronaves, oferecido na metade do ano passado, é reconhecido pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), tem apoio do Ministério da Agricultura e desperta interesse da aviação comercial.
O professor Sidnei Osmar Jadoski, professor do Departamento de Agronomia e diretor do Nata, explica que no início a proposta era criar um curso de mecânico aeroagrícola. Como a legislação da Anac não prevê essa modalidade, o currículo foi adaptado para oferecer uma formação mais ampla, de mecânico aeronáutico, mas uma espécie de "plus" em aviação agrícola.
Apesar da conotação genérica, o atrativo para a maioria dos 30 alunos da turma foi o apelo agrícola, admite Jadorski. O acadêmico Murilo Lucas Jorge, por exemplo, conta que a decisão pelo curso de mecânico de aeronaves foi tomada a partir de uma avaliação das perspectivas do mercado de trabalho e da remuneração. A reportagem apurou com uma empresa de prestação de serviços que a função pode remunerar de R$ 2.500 a R$ 5.000.
O curso do Nata é superior seqüencial de formação específica, diferente da graduação. No primeiro caso, o aluno pode partir apenas para especialização, enquanto que no segundo caso é permitido mestrado e doutorado. A duração é de 26 meses e o processo seletivo obedece regras de afinidade do candidato, que é avaliado por uma banca de professores. A formação ocorre a partir de uma parceria entre a Unicentro, o Ministério da Agricultura, a Anac e a Terceiro Milênio, uma empresa de aviação agrícola que cede a aeronave para as aulas de laboratório. A expectativa do Nata é receber ainda este ano dois aviões, cedidos pelo Mapa e pela Anac.
O próximo projeto é a implantação de um curso de formação superior de piloto agrícola. Seria o primeiro oferecido por uma instituição de ensino. Atualmente existem apenas duas opções, em Cachoeira do Sul (RS) e Itápolis (SP), que funcionam como auto-escolas, ligadas geralmente a aeroclubes. O processo está em fase de homologação e a expectativa é de seja autorizado ainda no segundo semestre.
Na prática, além da referência acadêmica e qualificação profissional, a iniciativa da Unicentro também abre um debate técnico-agronômico sobre a aviação agrícola, em especial a respeito da viabilidade econômica e eficiência desse sistema num estado onde 80% das áreas são consideradas pequenas propriedades, com menos de 50 hectares.
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