O Paraná deve produzir menos trigo neste ano, enquanto o Rio Grande do Sul terá colheita ampliada. Mesmo assim, a safra será 7,7% menor, somando 5,4 milhões de toneladas, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). As discussões que os produtores paranaenses encampam desde o ano passado inflamaram o setor diante da falta de uma política nacional de estímulo ao cultivo, considerando que o país produz menos da metade do que precisa para abastecer o mercado interno.
Esse próprio posicionamento é contraditório. A reação ao mercado instável e às exigências cada vez maiores de padrão menosprezam uma característica que deveria ser motivo para expansão contínua do plantio: a vocação para a triticultura.
Apesar de ter custos mais elevados que a Argentina, o Brasil avança em qualidade, mostra esta edição do Caminhos do Campo. Com exceção de safras em que há excesso de umidade, o tipo e a classe dos grãos deveriam fazer com que os moinhos disputassem a produção nacional. Mas o que ocorre é exatamente o inverso. Quando a colheita chega a seu auge, a indústria suspende compras. Com armazéns lotados, se dá o direito de barganhar por preços menores em casa.
A fonte de ânimo dos produtores normalmente vem do mercado externo. Quando há quebra de produção em países como Rússia ou redução de cultivo nos Estados Unidos, os preços internacionais sobem, estimulando o Hemisfério Sul. Um empurrão que deveria vir também do mercado doméstico, pela própria importância do trigo na dieta dos brasileiros.
Com novos padrões e novas variedades, o setor produtivo se prepara para mostrar, mais uma vez, que é capaz de suprir a demanda interna. Ainda à espera de reconhecimento e maior garantia de renda, prova ter flexibilidade e disposição para enfrentar a concorrência. A meta é vencer as constradições caseiras e transformar a principal cultura de inverno em uma atividade recompensadora, deixando para trás uma época reclamações e frustrações.