O recente debate sobre a liberação de agrotóxicos pelo governo federal acende uma alerta para pesquisadores e profissionais da saúde sobre os riscos dos pesticidas à vida humana e animal. Nos negócios, a polêmica dá mais visibilidade a startups que eram pouco conhecidas fora das grandes cidades: as agtechs, que atuam com sensores e controle de dosagem de defensivos agrícolas.
De acordo com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), a quantidade de agtechs no Brasil passou de 245 em 2015 para 322 até agosto deste ano. O setor de agronegócio é o quinto mais representativo entre as startups do país, atrás de internet, saúde e bem-estar, finanças e educação, respectivamente.
A Eirene Solutions faz parte desses números. Criada em 2013, startup promete auxiliar empresas e pequenos produtores a pulverizar agrotóxicos com mais facilidade e precisão, gerando até 90% de economia em defensivos agrícolas. Criamos um sensor com luzes azul e vermelha que indica onde há ervas daninhas. Assim, a planta não cria resistência ao pesticida e não utilizamos o produto sem necessidade”, explica Eduardo Marckmann, CEO da empresa, sobre o dispositivo SaveFarm.
A Eirene também desenvolveu um veículo que automatiza o processo de pulverização e possui um painel solar que gera energia para recarregar o robô de forma autônoma. “Com o Eirobot, o operador não tem contato algum com o composto químico”, acrescenta Marckmann.
E para desenvolver novas soluções, a empresa está captando dinheiro via crowdfunding até outubro pela plataforma CapTable. A startup de Porto Alegre (RS) tem como meta recolher R$ 750 mil, sendo que 93% do montante já foi atingido.
Alto potencial
Como a Eirene, as agtechs têm alto potencial para captar investimentos devido à importância econômica do agronegócio para a economia nacional — o setor representa 21,1% do PIB brasileiro, segundo Amure Pinho, presidente da Abstartups.
“Essas startups oferecem ferramentas e tecnologias voltadas tanto para grandes empresas quanto para o desenvolvimento de pequenos produtores, como geolocalização, gerenciamento agrícola, drones e sensores para defensivos agrícolas”, detalha Pinho.
A Velbrax Agro, de Ribeirão Preto (SP), utiliza drones para captar imagens de terrenos agrícolas e machine learning para transformá-las em informações. Com os dados, a empresa presta serviço de monitoramento agrícola, apontando o estado da vegetação de uma fazenda após um temporal, por exemplo.
Até o final do ano, a startup espera concretizar uma parceria para oferecer também serviços de pulverização de agroquímicos, conforme revela Fabio da Cruz da Silva Primo, CEO da Velbrax Agro. “Trabalhar com defensivos agrícolas exige uma aeronave específica. Sozinho a gente vai rápido. Com pessoas, vamos mais longe”, destaca.
Com potencial de mercado, a startup ribeirão-pretano já obteve dois aportes: R$ 40 mil da Raja Ventures, de Belo Horizonte (MG), e R$ 30 mil da Sevna Startups, aceleradora de empresas do Supera Parque, onde está sediada atualmente.
Sensores criados em universidade
Após 13 anos de pesquisa acadêmica, a bióloga Mônica Vianna, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), criou sensores que medem a quantidade de agrotóxicos em uma plantação e permitem ao produtor avaliar se a pulverização foi realmente eficiente.
Este ano, a pesquisadora lançou a Wibis Vitae, pequena empresa carioca que neste semestre deve oferecer os serviços a empresas e produtores rurais de todo país. Os sensores, contudo, já estão sendo distribuídos para testes. “Se não tivermos um bom produto, seremos mais uma startup a morrer no mercado”, avalia.
No início deste ano, a empresa foi selecionada para o BNDES Garagem, programa de desenvolvimento de startups do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. A agetch também recebeu R$ 77 mil, divididos em 12 parcelas mensais por um ano, da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). “Qualquer economia no uso de agrotóxicos é positiva para o mundo”, afirma a doutora em química analítica.
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