As safras agrícolas dos Estados Unidos têm poucas chances de atingir novos recordes até, pelo menos, 2023, em meio à guerra comercial e ao clima pouco favorável visto no último ano. Durante palestra durante o primeiro dia do 7º Fórum de Agricultura da América do Sul, que ocorre até sexta-feira (6) no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (PR), o vice-economista chefe do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), Warren Preston, apresentou dados recentes sobre a safra norte-americana, que evidenciam uma quebra no setor. A produção de soja, por exemplo, tem uma baixa estimada em 19% para a próxima safra. Para o milho, a queda estimada está em 3,6%.
Preston expôs, contudo, algumas medidas que deixam clara a intenção do governo em dar oxigênio extra aos produtores americanos frente ao atual panorama, principalmente para manter rendimentos líquidos. “Nossas políticas domésticas estão sendo feitas para que agricultores possam mitigar riscos de comércio e desastres naturais”, garantiu.
Neste contexto, a América do Sul terá um papel fundamental na produção mundial de alimentos na próxima década, e o Brasil será o grande protagonista, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). A representante de serviço de pesquisa econômica do USDA, Constanza Valdez, afirmou que o Brasil será o maior produtor e exportador de soja nos próximos dez anos, com uma participação que pode chegar a 76% do mercado mundial de soja. Constanza afirmou ainda que o país deve manter também a liderança na exportação de aves.
Segundo a representante do USDA, a produção de commodities agrícolas deve seguir em alta no mundo na próxima década, com aumento no consumo de frutas, laticínios, carnes e óleos vegetais, refletindo um maior desenvolvimento econômico de países da América Latina e Cina. Somente o Brasil deve produzir 145 milhões de toneladas de soja nos próximos dez anos. No painel que discutiu a oferta e a demanda futura, o consultor Étore Baroni, da INTL FCStone, afirmou que a área colhida de soja no mundo cresceu nos últimos anos, sendo que a maior parte veio do Brasil (mais de 60% desde 2010). Enquanto isso, os EUA aumentaram em 10% a sua área plantada.
Quem fechou o painel sobre o tema foi Paulina Lescano, especialista em mercados agrícolas da Argentina, que falou sobre os desafios daquele país envolvendo o agronegócio e o comércio exterior. “Temos recursos naturais, inteligências, sabemos as melhores práticas agrícolas, mas a cada 3 ou 4 anos as nossas possibilidades de crescimento são travadas”, disse. No entanto, ela apontou a recuperação do país nos últimos anos, que colheu na última safra 140 milhões de toneladas de grãos – 50 milhões de t a mais em comparação a 2004/2005. Seca histórica do ano passado impossibilitou à Argentina ganhar mercados, como o chinês. O país os produtos agro representam 61% dos ganhos com exportações da Argentina, que exporta 70% dos grãos que produz.
Logística problemática
Por falta de alternativas em infraestrutura, os produtores brasileiros de grãos gastam o dobro do que os norte-americanos para mandar seus produtos para a China, um dos países que mais compra a nossa soja, milho e algodão. A informação é de Edeon Vaz, diretor executivo do Movimento Pró-Logística, criado no MT há 10 anos, e trabalha pela redução do custo do frete no país. Durante painel do Fórum, ele afirmou que enquanto um produtor norte-americano gasta US$ 56 por tonelada para mandar soja ao país asiático, o brasileiro paga o dobro. “Isso reduz a rentabilidade do produtor brasileiro”, pontua Vaz. Ele foi um dos painelistas que discutiu as condições da logística brasileira durante o 7º Fórum de Agricultura da América do Sul, que ocorre nesta quinta e sexta em Curitiba (PR).
Vaz mostrou a infraestrura hoje existente no Brasil, com poucas opções de hidrovias e ferrovias, e com muitas rodovias ainda a serem terminadas. Ele exemplificou que nos EUA a malha ferroviária é de 290 mil km, enquanto que a malha brasileira é de apenas 30 mil km, sendo que apenas 12 mil km estão sendo operados. Além disso, a melhor hidrovia do país – do Rui Nadeira – reduz em 42% o custo em relação ao transporte rodoviário. Ainda assim, segundo ele, ainda há poucas iniciativas, boa parte do setor privado, para escoar a produção de grão do país até os portos, especialmente os do Arco Norte. Também falou no painel o diretor-presidente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Luiz Fernando Garcia da Silva, que falou sobre os gargalos e as ações que estão sendo tomadas pelos portos do Paraná para tentar melhorar as condições de logística.
A instalação de painéis fotovoltaicos em uso mesclado com solos agrícolas pode aumentar o rendimento do solo em até 86%. A informação é de Franz Pöter, diretor da companhia alemã Solar Cluster Baden-Württemberg. Em palestra durante o 7º Fórum de Agricultura da América do Sul, Pöter disse que na Alemanha a energia renovável tem sido usada em uso conjunto com terras férteis e os resultados vêm sendo positivos: “Os agricultores resolvem a superação de conflitos de aproveitamento de solo e terra, atingem as metas de sustentabilidade e incentivam a geração de empregos na área”.
Atualmente na Alemanha, 35,2% de toda a energia utilizada vem de fontes renováveis. O setor empregou 10,3 milhões de pessoas em 2017. No Brasil, o cenário ainda apresenta crescimento mais moderado, mas já anima especialistas. O conselheiro regional da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, Rodrigo Pedroso, se mostrou otimista com o futuro da geração de energia por painéis solares no país. Segundo ele, a alimentação desse tipo pode oferece energia para motores que serão utilizados na irrigação e no abastecimento de água no consumo animal. O custo também é um atrativo: “hoje em dia os preços são mais acessíveis. Em três anos e meio se paga uma tecnologia que vai durar cerca de 25 anos”, disse durante sua palestra.
Veja como foi o primeiro dia do Fórum:
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