Nas próximas semanas, negociadores do Brasil e do México voltam a sentar à mesa para discutir as bases de um acordo bilateral de comércio, que tiveram conversas interrompidas por quase um ano devido às eleições nos dois países. Desde que começaram a negociar, em 2015, ainda na época dos presidentes Dilma Rousseff e Peña Nieto, já foram nove rodadas de conversações, mas o México nunca se dispôs a incluir os produtos agrícolas na pauta.
Desta vez, a diplomacia brasileira espera que a tradicional fórmula do ‘toma lá, dá cá’ possa quebrar a resistência mexicana. No xadrez da negociação comercial, quem primeiro cedeu foi o Brasil que, desde março deste ano, atendendo a um anseio antigo do México, fez vigorar o livre comércio de carros e autopeças entre os dois países.
“Nós demos esse passo muito grande, que foi a liberação do comércio automotivo que eles tanto queriam. Não temos isso nem com os Estados Unidos ou a China. Mas, agora, cadê a nossa parte?”, diz Mateus Caiado, chefe do Setor Comercial da embaixada brasileira no México, em conversa com a Expedição Safra da Gazeta do Povo, que nesta semana cumpre roteiro extraordinário no país centro-americano.
A nossa parte, a que se refere Mateus Caiado, é a abertura do mercado mexicano para produtos agrícolas, têxteis e calçados brasileiros. “O Brasil, na verdade, tem interesse em se aproximar ao máximo do livre comércio, caso o México se mostre disposto”, acrescenta.
E o México, de certa forma, está em dívida com o Brasil. Quando estourou o surto de gripe aviária nos Estados Unidos em 2013, o governo mexicano abriu uma cota extraordinária de 300 mil toneladas com tarifa zero para conseguir frango de outros países, já que 86% de suas importações da carne branca vinham do vizinho do norte.
Muito rapidamente, observa Caiado, o “Brasil ocupou 99% da cota e passou a responder por 15% das importações de frango do México”. Em março, a cota das 300 mil toneladas foi toda preenchida, quase um ano antes do prazo final de validade. Os governos negociam agora uma extensão da cota ou criação de outra. Os mexicanos acenaram com 55 mil toneladas, mas o Brasil quer mais. Fora da cota, a sobretaxa é de 75% e inviabiliza a exportação. “Minha impressão é que eles têm que mostrar resultado para seguir afirmando que querem diversificar o comércio. O discurso da diversificação já chegou no limite, e agora eles têm de mostrar que realmente estão diversificando”, enfatiza Caiado.
O efeito da retórica nacionalista de Trump fez o México ver a necessidade de diversificar seus fornecedores e diminuir a dependência dos EUA. Neste novo cenário, o México agilizou o acordo com a União Europeia e o novo TPP com os asiáticos, no ano passado. “Faltou a América do Sul, porque eles sabem que, para isso, precisam abrir o setor do agronegócio. A gente está para descobrir se a abertura comercial será prática ou é apenas retórica. O fato é que houve uma mudança de foco, que antes era só no Norte (EUA), em busca de alternativas, porque não dá para colocar todos os ovos numa só canastra”.
Relacionamento incerto
Para Ricardo Álvarez, consultor da Agritendências, na capital federal mexicana, o relacionamento do México com os EUA anda muito incerto. “Hoje o Trump pode dizer uma coisa e amanhã outra. Apoiamos muito a ideia de diversificar os fornecedores, para não depender tanto dos Estados Unidos. É uma relação de carinho e de outros sentimentos, é muito complicada”.
Com 60% da preferência, o frango é a carne mais consumida no México. A cada 10 frangos, dois são importados. Após ‘morder’ 15% desse mercado, o Brasil não quer voltar à estaca zero representada pela sobretaxa de 75%. Relatório de março do USDA aponta que a indústria da carne mexicana tem pressionado o Ministério da Economia a renovar a cota utilizada pelo Brasil, enquanto a associação dos avicultores do país faz lobby para eliminá-la, em nome do incentivo à produção nacional.
A embaixada brasileira adiantou que nesta semana mais oito frigoríficos brasileiros vão ser habilitados a exportar frango para o México, totalizando 53. Os americanos têm a vantagem da proximidade geográfica e uma fronteira de 3 mil quilômetros, de intensa movimentação de caminhões e cargas ferroviárias. “É uma logística que está facilitada e estabelecida de verdade. Existe essa curva inicial de descobrir como é fazer negócio com o Brasil, com quem se deve falar, qual porto utilizar, quais os custos das operações. Mas quando eles (mexicanos) descobrem que o nosso produto é mais barato, pronto, a palavra se espalha. Isso aconteceu com o frango, muito claramente. O que a gente quer é competir em pé de igualdade com outros países do mundo, não estamos pedindo um mercado cativo”, conclui Caiado.
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