A partir de agora o tradicional prato da culinária indiana tikka masala poderá ganhar um “novo” ingrediente: o frango brasileiro. “Novo” para os próprios indianos, que vão receber em breve os primeiros carregamentos de carne de frango in natura brasileira. O anúncio da permissão de importação concedida pela autoridade sanitária indiana foi feito nesta semana pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Segundo o Ministério da Agricultura (MAPA), estima-se que o comércio da ave na Índia cresça entre 7% e 8% ao ano.
Com a segunda maior população do planeta (1,3 bilhão de habitantes e previsão de ultrapassar a China nos próximos anos), a Índia tem potencial para se tornar um dos principais mercados consumidores para a nossa carne na Ásia. Apesar de uma parte da população ser vegetariana, a demanda por proteína animal vem aumentando, principalmente pelo crescente processo de urbanização e melhor distribuição de renda, conforme explica o diretor-executivo e de Mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santim.
“A efetivação desse mercado é algo que esperávamos há tempos. A índia tem uma população muito grande, que cresce acima de 5% ao ano. Apenas parte da população indiana não come carne por questões religiosas, mas o restante não come porque não tem renda. E o frango leva vantagem por não ter nenhuma proibição religiosa e um preço mais razoável”, observa Santim, referindo-se à competitividade com outras proteínas animais.
De acordo com Leonardo Ananda, presidente da Câmara de Comércio Índia Brasil e cônsul geral honorário da Índia no Rio de Janeiro, apenas 30% da população indiana é 100% vegana, ou seja, há um potencial mercado de quase 1 bilhão de pessoas para o frango brasileiro. “O frango hoje é a principal carne consumida na Índia, além do peixe. Apenas uma pequena parcela come carne bovina, até porque há restrições à comercialização. O maior problema do país é a proteção que existe para a importação de carne, por causa do lobby dos players locais”, explica.
Segundo ele, no comércio de frango vivo os nichos locais ainda vão dominar, mas há uma grande oportunidade para o Brasil na área de frango processado, em que existe uma enorme demanda. O setor cresceu de 8% a 10% ao ano nos últimos 3 anos, segundo Ananda.
Primeiros embarques
Grandes empresas brasileiras do setor já estão de olho no novo mercado. O grupo JBS, através da Seara Alimentos, foi a primeira empresa brasileira a receber autorização para enviar produtos de frango à Índia. “A empresa embarcará a primeira carga de coxas e sobrecoxas (leg quarter) nas próximas semanas, que chegará ao porto de Jawaharlal Nehru, em Maharashtra”, informou a companhia em nota. A distribuição no mercado indiano será feita por empresa local, segundo a JBS, que não informou a quantidade de produto que será enviada à Índia.
A BRF, por sua vez, apesar de ainda não exportar frango para a Índia, informou que está “atenta a novos destinos” para os seus produtos. “A nossa avaliação é que a Índia pode se tonar um potencial mercado no longo prazo, uma vez que a economia está crescendo e há um grande mercado consumidor naquele país”, afirmou a empresa também por meio de nota.
Apesar de ser a carne mais consumida na Índia, o frango ainda tem um consumo per capita baixo por lá – apenas 3,5 kg/ano, segundo o MAPA. No Brasil, a quantidade chega a 44,6 kg/ano, enquanto a média mundial é de 11,9 kg/ano. Conforme o Ministério, todas as plantas frigoríficas registradas no Serviço de Inspeção Federal estão autorizadas a exportar carne de frango in natura para a Índia, desde que observados os requisitos acordados.
Brasil e Índia possuem um acordo sanitário firmado desde 2008, mas só agora as importações para o país asiático foram autorizadas. De acordo com Ricardo Santim, outra barreira a ser vencida no mercado indiano é a alta tarifação para a carne estrangeira, que chega a 35% para o frango inteiro e a até 100% para cortes de aves.
Relação com a China
Na opinião de Juliana Pila, analista de mercado da Scot Consultoria, a abertura do mercado indiano deve ser comemorada, mas é preciso entender que isso não se dará de uma hora para a outra. “Abrir mercado não quer dizer que as exportações vão começar logo em seguida, é um processo que demora um tempo. Mas o que está muito bem visto, até na carne de frango, é com relação à China, em função da peste suína. Tem muita expectativa de aumentar as exportações das demais proteínas, de frango e bovina também, para a China.”
Ainda assim, Leonardo Ananda não acredita que a Índia vá ultrapassar a China como principal comprador do frango brasileiro. “Apesar de ser o país que mais cresce no mundo (7% ao ano), o que deve fazer com que a Índia ultrapasse a China em população, os chineses são a realidade na parceria comercial com o Brasil. Mas é importante essa abertura do mercado indiano para diversificarmos a nossa pauta de exportações”, observa.
Na próxima semana, a ministra Tereza Cristina deve liderar uma comitiva brasileira a alguns países asiáticos para fortalecer as relações comerciais. Santim, que vai integrar a comitiva, explica que o grupo passará por Japão, China, Vietnã e Indonésia. A Índia, desta vez, não vai integrar o roteiro. Atualmente, os principais destinos do frango brasileiro são: Arábia Saudita (US$ 805 milhões); China (US$ 800 milhões); e Japão (US$ 722 milhões). A Ásia, diz Santim, hoje responde por 25% das exportações brasileiras de frango. Somente a China abocanha 10% disso.
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