Enquanto a China vira as costas ao etanol norte-americano em uma insistente disputa comercial, o Brasil está considerando a possibilidade de abrir as portas para o biocombustível de milho dos EUA.
As autoridades brasileiras estão debatendo se devem ceder ao pedido de Washington para suspender as tarifas de importação de etanol como forma de facilitar as negociações de um acordo comercial bilateral com os EUA, segundo informaram fontes com conhecimento do assunto. Um amplo acordo comercial, que poderá ser anunciado em outubro, beneficiaria muitos produtos brasileiros.
Autoridades do Ministério da Economia estão dispostas a remover as barreiras ao etanol, enquanto o Ministério da Agricultura, mais protecionista, estaria pressionando para renovar as atuais cotas de importação com tarifa zero, segundo fontes que pediram para não serem identificadas.
Há dois anos, o Brasil impôs uma tarifa de 20% sobre os embarques norte-americanos de etanol que excedem a cota anual de 600 milhões de litros. Isso ocorreu depois que as importações de etanol de milho aumentaram, inundando o mercado brasileiro e derrubando os preços.
Um acordo de biocombustível entre as duas nações seria um alívio para a indústria de etanol dos EUA, que tem sido afetada por um excesso de oferta e pelas margens mais fracas em 15 anos. Os produtores americanos expandiram rapidamente a produção para atender à crescente demanda chinesa, mas ficaram sem compradores em meio à guerra comercial entre o presidente Donald Trump e Pequim.
Uma decisão teria de ser tomada até o final deste mês, quando a cota expira e um imposto de 20% sobre todas as importações entraria em vigor. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e os Ministérios da Economia e Agricultura não responderam aos pedidos do The Washington Post para comentar o asssunto.
Segundo apurou a reportagem, o governo Bolsonaro excluiria ao menos alguns embarques americanos de etanol do imposto de 20% a fim de preservar as relações, uma vez que o Brasil está se esforçando para resolver outras reclamações comerciais dos EUA. Em março, o Brasil concordou em abrir uma cota de importação de trigo de 750 mil toneladas por ano livre de impostos, um movimento que poderia beneficiar os agricultores americanos.
Na pior das hipóteses, o Ministério da Economia estenderia a cota de 600 milhões de litros de etanol para ganhar mais tempo para negociar, segundo informaram fontes do Post. O Brasil foi o principal destino dos embarques de etanol de milho dos EUA no ano passado, com importações de mais de 1,7 bilhão de litros.
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