Farinhenta, maçã da variedade Red Delicious perdeu popularidade nos últimos anos para concorrentes mais crocantes e suculentas| Foto: BigStock/

A variedade de maçã Red Delicious – de um vermelho intenso e brilhante, do tipo que a bruxa entregou para Branca de Neve no conto de fadas – já fez muito sucesso no Brasil em décadas passadas, mas foi desbancada no gosto popular pelas variedades fuji e gala, que hoje reinam absolutas pela crocância e suculência diferenciadas.

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As pequenas quantidades da Red Delicious que ainda entram no País importadas da Argentina, no entanto, podem trazer escondido um perigo mortal para os pomares. No início deste mês, a entrada de carregamentos com a variedade ficou proibida por 15 dias, devido ao alto número de rechaços (devolução das cargas) dos fiscais agropecuários brasileiros na fronteira. Na prática, os fiscais brasileiros procuraram – e encontraram – várias maçãs com larvas da mariposa responsável pela doença conhecida como Cydia pomonella, ou traça-da-maçã, erradicada do Brasil desde 2014.

“Por alguma razão os argentinos não estavam aplicando de maneira adequada o plano de mitigação de risco da doença, que é bastante rigoroso. Essa praga pode chegar nas embalagens ou dentro do próprio fruto, indo para o lixo da cidade e dali para os pomares. É um risco muito grande. Foi assim que ela foi introduzida pela primeira vez no Brasil, há 30 anos, e levamos 20 anos para erradicar essa doença”, diz Moisés Lopes de Albuquerque, diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Maçã (ABPM), com sede em Fraiburgo, Santa Catarina.

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Traça-da-maçã

A presença da Cydia pomonella em pomares comerciais é sinônimo de prejuízo econômico e ambiental, porque a traça-da-maçã (que ataca também as peras), diminui a qualidade e a quantidade de frutos, aumenta o custo de produção, exige aplicação de inseticidas e acaba levando à perda de mercados devido às barreiras fitossanitárias dos países importadores.

Segundo Albuquerque, a intensificação das fiscalizações na fronteira foi pedida pelos fruticultores brasileiros depois de notícias de que a praga se intensificou no país vizinho com a crise econômica, que multiplicou o número de pomares abandonados ou sem o manejo adequado. No ano passado, relata Albuquerque, a praga chegou a Fraiburgo a partir de frutas da Argentina, mas foi identificada e erradicada. “Isso mostra que o sistema de contingência do Brasil está funcionando, aplicou-se o plano de reação, o monitoramento foi ampliado em todas as regiões produtoras e nada mais foi encontrado”. O recente bloqueio da fronteira para a maçã argentina, segundo a ABPM, deve servir “de estímulo para que os argentinos apliquem corretamente o plano de mitigação da doença, e para que as autoridades brasileiras acompanhem de perto”. “Do contrário, ficaremos expostos, sim”, diz Albuquerque.

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Após a reabertura do mercado brasileiro para a maçã Red Delicious, no início desta semana, o presidente do Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (Senasa) da Argentina, Ricardo Negri, deu o recado para os hermanos: “agora cabe a nós e a todos os atores da cadeia de pera e maçã, públicos e privados, fazer de tudo para manter esse mercado aberto, o que significa muitos empregos em Río Negro, Neuquén e Mendoza”.

A produção brasileira de maçãs, no ano passado, foi de 1,1 milhão de toneladas. Desse montante, 900 mil toneladas são consumidas como fruta fresca. O volume da “farinhenta” Red Delicious importado da Argentina – cerca de 20 mil toneladas – não tem peso comercial relevante. “Nossa única preocupação é fitossanitária”, reforça Albuquerque.

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