A BRF Brasil, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, decidiu encerrar a produção de perus no município de Mineiros, em Goiás. O corte da linha de produção, que tinha como destino o mercado internacional, deve-se, basicamente, às restrições dos mercados externos aos produtos brasileiros. “Nós não vamos mais produzir peru em Mineiros. A decisão está tomada. Estamos concentrando essa produção em Chapecó (SC), por questões de abertura de mercado”, disse vice-presidente global de eficiência corporativa da BRF, Jorge Lima, após participação em uma audiência no Senado. “É uma questão mundial. Não tem mais onde vender. Não dá para continuar a produzir peru na quantidade que estamos produzindo sem ter mercado, com a Europa fechada.”
A suspensão da produção em Mineiros encerra um ciclo de 11 anos de atividade que mudou a realidade deste município do interior de Goiás. Em 2007, a BRF Perdigão instalou seu complexo frigorífico na cidade, localizada a 450 quilômetros de Goiânia, no limite com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Um ano antes, a concorrente Marfrig já havia erguido uma unidade na região, que acabou convertida num complexo de produção de aves.
O fim da produção de perus em Mineiros afetará 120 produtores no município, além de aproximadamente 1.500 funcionários da BRF que trabalham nesta operação e outras 3 mil pessoas que, indiretamente, atuavam nesta cadeia produtiva. A decisão da empresa é de manter apenas a produção de frangos na unidade, responsável por cerca de 65% da operação. Para não deixar os produtores a ver navios, a BRF informou que vai assumir todos os compromissos financeiros com os quais seus fornecedores de aves haviam se comprometido.
Nas contas de Fábio Leme, vice-presidente da Associação dos Avicultores Integrados da Perdigão em Mineiros (Avip), cerca de R$ 250 milhões foram tomados em financiamentos pelos produtores para bancar a produção assumida com a BRF. A planta vinha produzindo, em tempos regulares, 25 mil perus por dia e pretendia aumentar a produção para 32 mil aves por dia. Fábio Leme está entre os produtores que aguardam uma definição da empresa sobre o que fazer com suas granjas: se passa a produzir frango ou se fecha de vez.
“Fazer o quê? Agora é procurar uma outra alternativa de negócio. Não há o que fazer. Minhas granjas produziam 900 mil perus por ano. Era um bom negócio”, comenta Leme. “Já demiti 34 funcionários, estou encerrando essas operações.”
Em março do ano passado, a unidade de Mineiros foi dos frigoríficos investigados e interditados na Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que apontou esquema de corrupção envolvendo fiscais do Ministério de Agricultura, no Paraná e Goiás.