Uma análise da consultoria PWC, publicada no ano passado, prevê que o Brasil poderia se tornar a quinta maior economia mundial em 2050. O que é preciso fazer na esfera econômica, institucional e política para o país conseguir esse bom desempenho?
Uma análise da consultoria PWC, publicada no ano passado, prevê que o Brasil poderia se tornar a quinta maior economia mundial em 2050, em termos de paridade de poder de compra (PPP). As quatro primeiras seriam a China, a Índia, os Estados Unidos e a Indonésia.
Hoje, considerando o PIB PPP, o Brasil ocupa a oitava posição, tendo à sua frente a China, os Estados Unidos, a Índia, o Japão, a Alemanha, a Rússia e a Indonésia. Assim, para alcançar a quinta posição, o Brasil precisará ultrapassar poderoso trio Japão, Alemanha e Rússia.
A PWC avalia que o Brasil, que hoje gera um PIB PPP de US$ 3,4 trilhões, poderia chegar a US$ 7,5 trilhões em 2050. Para conseguir esse bom desempenho, o Brasil cresceria em média 1,5% ao ano no período de 2016 a 2020, 3% ao ano entre 2021 e 2040, e 2,5% ao ano de 2041 a 2050.
Considerando território e população, o Brasil é o quinto maior país do mundo. O que é preciso fazer na esfera econômica, institucional e política para o país se tornar a quinta maior economia mundial?
Agenda de reformas
Primeiramente, é preciso continuar com as reformas. E esse será o maior desafio no atual cenário político e com as eleições presidenciais em outubro. E imprescindível manter o equilíbrio fiscal, respeitar o teto do gasto público e controlar a dívida pública e a inflação.
Para isso, é de extrema importância conseguir aprovar a reforma da previdência, aprofundar a reforma trabalhista e promover a simplificação tributária, reduzindo o número de impostos e desonerando o comércio exterior e os investimentos.
É preciso focar na redução da participação do Estado na economia, com a ampliação da iniciativa privada. Dar continuidade ao programa de desestatização, concessões e privatizações nos setores econômicos onde a iniciativa privada é mais competente, otimizando a gestão de ativos e proporcionando a melhora na prestação de serviços públicos.
O crescimento depende, ainda, de dois fatores importantes: da ampliação do investimento público e privado e do crescimento da produtividade.
Em 2017, com exceção do Distrito Federal, de Goiás e de Sergipe, todos os outros estados brasileiros gastaram mais da metade de sua arrecadação líquida com servidores públicos ativos e inativos. E essas despesas não param de crescer. Conforme dados do Tesouro Nacional, os investimentos foram responsáveis por uma parcela de 2% a 12% do total das receitas dos estados brasileiros no período.
Esses montantes de investimento por parte dos estados são muito pequenos para resolver os gargalos que o Brasil tem na área de infraestrutura e logística. A solução passa pela redução de gastos com pessoal e por uma maior abertura dos setores para a iniciativa privada.
Crescimento da produtividade e modernização
O tema da produtividade é complexo. Produtividade indica a efetividade da interação entre os estoques de capital físico e de capital humano existentes. A intensidade dessa interação é o principal motor do crescimento econômico de longo prazo.
No meu artigo nesta coluna de 21 de dezembro de 2017, intitulado “Agronegócio brasileiro: o modelo que deu certo”, relatei que nas duas últimas décadas a produtividade no setor de serviços, que responde por 73,2% do PIB brasileiro, cresceu apenas 0,3% ao ano. A indústria brasileira, que representa 21,2% do PIB, teve resultado ainda pior, sendo responsável por uma queda de produtividade de 0,8% ao ano. O único setor que se destacou em relação à produtividade foi a agropecuária, que representa 5,5% do PIB: cresceu incríveis 5,4% ao ano.
O desafio de aumentar a produtividade, sobretudo no setor industrial, não é somente do Brasil. Desde 2007, a produtividade mundial está estagnada. O Brasil tem uma condição muito privilegiada tanto na questão de recursos naturais quanto de talentos humanos.
E aí que vem a força que poderia estimular a produtividade e, com isso, a competitividade dos setores econômicos do Brasil: a maior abertura da economia brasileira. Abertura com desburocratização e simplificação de procedimentos em todas as áreas empresariais, com a melhoria da governança pública e privada.
E aqui, na área econômica e empresarial, precisamos de uma grande transformação – de uma modernização, que mudaria a cultura de desconfiança. Onde é possível, é preciso estabelecer a prática de registros declaratórios – no lugar de demorados processos de autorização prévia com a apresentação de inúmeros documentos. Ao invés de dificultar a vida de quem quer produzir, o Estado precisa confiar na declaração de seus cidadãos, punindo abusos.
É importante reduzir a burocracia, estabelecendo um equilíbrio entre a boa gestão e a responsabilidade. Nos países desenvolvidos, é muito comum, por exemplo, ter processos de contratações públicas com menos burocracia, mas ao mesmo tempo, com severas punições no caso de fraudes. É comum, também, terceirizar a auditoria para o setor privado e ter a maioria de registros feitos com base na declaração do administrado.
Confiar mais nos gestores e nos empresários. E aplicar penalidades para valer no caso da quebra da confiança e violações de normas.
Abertura comercial
Mais uma transformação deveria ocorrer com a abertura comercial do Brasil, que é, por sua vez, essencial para ampliar investimentos no país. Conforme dados do Banco Mundial, em 2016, o comércio exterior foi responsável somente por 25% do PIB brasileiro, enquanto a média mundial foi de 56%.
No quesito de investimentos, também ficamos bem abaixo da média mundial. O índice de formação bruta de capital fixo, que mede os investimentos em ativos fixos, como plantas industriais, máquinas, equipamentos etc., fechou em 23% do PIB mundial em 2016, enquanto no Brasil totalizou somente 16% do PIB.
Vimos no caso da China, por exemplo, como o foco do país na ampliação da capacidade produtiva futura por meio de investimentos correntes em ativos fixos aumentou significativamente a produtividade e acelerou crescimento.
Se queremos sair de uma participação pífia de 1% do comércio internacional, aumentar o investimento e garantir bases sólidas para o crescimento da nossa economia, devemos adotar uma política de comércio exterior que busque uma maior abertura comercial do país, com mais acordos comerciais e uma importante desoneração das importações de insumos e de bens de capital.
Precisamos agir rápido, no contra-ataque à guerra comercial iniciada pelo Presidente Trump. Os países que sofrem com as medidas estadunidenses estão hoje muito mais dispostos a negociar acordos comerciais com outros países para amenizar as perdas. O Canadá quer agilizar a entrada em vigor da Parceria Transpacífica com outros 10 países e, ao mesmo tempo, assinar logo o acordo de livre comércio com o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, no âmbito do Mercosul.
Podemos observar o mesmo movimento da União Europeia em querer concluir o mais rápido possível o acordo com o Mercosul.
E o Brasil e seus parceiros do Mercosul deveriam aproveitar este momento oportuno para concluir esses acordos e iniciar novas tratativas para abrir novos mercados. Como as negociações demoram, seria interessante o Brasil definir rapidamente uma estratégia de aproximação com os países que representam grandes mercados.
Além dos acordos com a UE e o Canadá, seria interessante aprofundar os acordos existentes com os países da Aliança do Pacífico (México, Colômbia, Chile e Peru), transformando-os em livre comércio e, talvez, ampliar essa negociação para algo mais ambicioso, abrangendo um maior número de países das Américas, a exemplo da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas, proposta pelos Estados Unidos em 1994). Seria interessante o Brasil assumir um maior protagonismo no processo de abertura comercial na região.
Que tal avaliarmos a possibilidade de entrar no acordo reformulado da Parceria Transpacífica, muito benéfico para o setor agropecuário, negociar acordos com a Coréia do Sul, com a Rússia e outros países da União Euroasiática, e até com a China?
É um momento oportuno para repensar as nossas estratégias e dar espaço para os setores mais competitivos da nossa economia, como o agronegócio, que já responde por quase a metade das exportações.
As ações do Presidente Trump geram, por parte dos países afetados, retaliações justamente em relação aos produtos agropecuários. O México acaba de anunciar tarifas, que prejudicarão as exportações estadunidenses de maçãs que totalizaram quase US$ 240 milhões em 2017, conforme dados do International Trade Center (ITC).
As exportações de “Tennessee whiskey” também serão objeto de retaliações. Em 2017, segundo o ITC, a UE importou US$ 700 milhões dessa bebida, o Canadá, US$ 48 milhões e o México, US$ 11 milhões.
Mais um exemplo de fortes restrições retaliatórias é a carne suína. Conforme divulgado pelo jornal Financial Times, a nova tarifa de 20% imposta pelo México (ao invés de 0%) e de 37% da China (no lugar da tarifa normal de 12%), devem prejudicar substancialmente as exportações do produto estadunidense. Antes do início da guerra comercial, os EUA planejavam exportar 3 milhões de toneladas este ano, dos quais mais de 40% iriam para esses dois mercados, o México e a China.
Com as retaliações, podem aparecer várias oportunidades para os produtos agropecuários brasileiros: frutas, bebidas e carnes, entre outros. Precisamos ser ágeis para não perder esse momento oportuno.
Finalizando, é extremamente importante lembrar da segurança jurídica e da previsibilidade. Somente a greve dos caminhoneiros, que durou 11 dias, foi capaz de parar o país, questionar as postulações de livre mercado, aumentar a inflação e reduzir as previsões do resultado econômico anual do Brasil em mais de 1%.
O mundo está olhando para o Brasil e vendo um grande potencial. Tem tudo para dar certo. A bola agora está conosco.
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