Nesta terça-feira (26), o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, divulgou uma carta direcionada ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, com um pedido de desculpas por ter criticado a qualidade da carne produzida no Brasil.
Na semana passada, Bompard anunciou que a rede supermercadista francesa não compraria nenhuma carne proveniente do Mercosul nas suas unidades na França.
A restrição a Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai ocorreu em meio à onda de protestos de agricultores franceses contra a proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o bloco da América do Sul.
Bompard disse que o acordo traria o "risco de a produção de carne que não cumpre com seus requisitos e padrões se espalhar pelo mercado francês".
Crise com agro brasileiro
Após a deflagração da crise com a declaração de Bompard, o setor brasileiro produtor de carne reagiu com um boicote ao Carrefour no Brasil e exigiu uma retratação pública como condição para retomar o fornecimento de carne.
A carta com o pedido de desculpas foi primeiro publicada pelo site Neofeed e divulgada ao vivo pela CNN Brasil.
De acordo com a CNN Brasil, a carta só foi divulgada ao público porque representantes do Carrefour não conseguiram entregá-la pessoalmente ao ministro da Agricultura, em Brasília, na segunda-feira (24).
Em um trecho da carta, Bompard diz que “o Grupo Carrefour Brasil é profundamente brasileiro” e culpa a comunicação do Carrefour França pela “confusão”.
CEO não indica se voltará a comprar carne do Mercosul para o Carrefour na França
Apesar de lamentar a confusão com o mercado brasileiro e pedir que sua fala anterior não seja "interpretada como questionamento da parceria com a agricultura brasileira", Bompard não deixou claro se o Carrefour na França voltará a comprar carnes do Mercosul.
Leia a carta na íntegra
Ao Excelentíssimo Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Senhor Carlos Fávaro.
A declaração de apoio do Carrefour França aos produtores agrícolas franceses causou discordâncias no Brasil. Como Diretor-Presidente do Grupo Carrefour e amigo de longa data do país, venho, respeitosamente, esclarecê-la.
O Carrefour é um grupo descentralizado e enraizado em cada país onde está presente, francês na França e brasileiro no Brasil.
Na França, o Carrefour é o primeiro parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo.
A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes.
Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais.
Do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim.
São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produtores conhecemos.
O Grupo Carrefour Brasil é profundamente brasileiro, com mais de 130.000 colaboradores, se desenvolveu e continua se desenvolvendo sob minha presidência em parceria com produtores e fornecedores do Brasil, valorizando o trabalho do setor produtivo e sempre em benefício de nossos clientes.
Nos últimos anos, o Grupo Carrefour Brasil acelerou seu desenvolvimento, dobrando tanto o volume de seus investimentos no país quanto suas compras da agricultura brasileira.
Mais amplamente, o Brasil é o país em que o Carrefour mais investiu sob minha presidência, o que confirma nossa ambição e nosso comprometimento com o país. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil.
Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas.
O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos. Asseguro, Senhor Ministro, nosso compromisso de longo prazo ao lado da agricultura e dos produtores brasileiros.
Aproveito a oportunidade para renovar os protestos de estima e consideração.
Carrefour confirmou carta
À Gazeta do Povo, o Carrefour confirmou a divulgação da carta e enviou uma nota assinada pela empresa que repete os pontos principais do pedido de desculpas.
"A nossa declaração de apoio do Carrefour França aos produtores agrícolas franceses causou discordâncias no Brasil. E é nossa responsabilidade de esclarecê-la", diz um trecho da nota.
"Nunca quisemos opor a agricultura francesa à agricultura brasileira. França e Brasil são dois países que compartilham o amor pela terra, pelo cultivo e pela alimentação de qualidade", disse o Carrefour em outro trecho.
O que diz o Ministério da Agricultura
Por meio de nota, o Ministério da Agricultura confirmou o recebimento do pedido de desculpas do CEO do Carrefour e disse trabalhar "sempre no intuito de esclarecer os fatos para não permitir que declarações equivocadas coloquem em dúvida um trabalho de defesa agropecuária de alto nível e de uma produção de alta qualidade e comprometida com uma das legislações ambientais mais rigorosas do planeta".
"O Ministério enaltece o trabalho desempenhado pelo setor, a gestão ativa das associações e seus associados na defesa de uma produção de excelência que chega às mesas de consumidores em mais de 160 países do mundo. As boas relações diplomáticas conquistadas pelo governo brasileiro fazem com que, somente nos últimos dois anos, 281 novos mercados se somassem ao extenso portifólio dos produtos agropecuários brasileiros", diz outro trecho da nota.
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