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A oposição ao governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) propôs na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo um decreto legislativo para anular a decisão que mudou o nome do assentamento Che Guevara para assentamento Irmã Dulce, no município de Mirante do Paranapanema, Oeste do estado.
A mudança foi oficializada na última terça-feira (26), por meio de portaria do Instituto de Terras de São Paulo (Itesb). O assentamento foi o primeiro do MST na região de Pontal do Paranapanema, no início dos anos 90, e abriga atualmente 46 famílias.
Para o deputado Carlos Granazzi (PSOL), a medida é “autoritária e antidemocrática”. Ele protocolou um Projeto de Decreto Legislativo visando sustar os efeitos da portaria do Itesp. “Isso é uma agressão ao histórico do movimento, é uma tentativa de descaracterizar todo o histórico e a filosofia desse assentamento que produz alimentação sem agrotóxicos, que coloca de fato alimentos na mesa do povo de São Paulo”, afirmou Granazzi, em mensagem por vídeo.
Em sua página, o MST também reagiu e classificou a decisão como “arbitrária”. O movimento defende o nome de Che Guevara argumentando que ele “enfrentou radicalmente as mazelas do mundo capitalista, constituindo-se num dos principais dirigentes da construção de uma sociedade comunista”.
"É só comparar a história dos dois", diz vice-líder do Governo
O Itesp não está se manifestando sobre a polêmica. Quem rebate a mobilização do MST, PSOL e PT contra a mudança de nome do assentamento é o vice-líder do governo na Assembleia, deputado Guto Zacarias (União Brasil).
“Eu considero um acerto do Itesp e do governador a mudança de nome do assentamento. Basta comparar a história e o perfil dos dois. O Che Guevara sequer é brasileiro ou tem importância para a história brasileira. E nos locais em que tem importância, é uma importância negativa. Um histórico de fuzilamento, de racismo, de homofobia. O país que ele ajudou a construir é a ditadura cubana, uma das piores dos séculos 20 e 21, que persegue pessoas e oprime minorias”, afirma.
“De outro lado, a gente tem a Irmã Dulce, a primeira santa brasileira, que tem um histórico de caridade e beneficência, uma pessoa indicada ao prêmio Nobel”, acrescenta. Zacarias afirma que não está na alçada dos deputados reverter a decisão do Itesp. “Não acredito que passe na Comissão de Constituição e Justiça, não é constitucional. O governador tem a prerrogativa de mudar o nome dos assentamentos, inclusive poderia trocar o nome de todos, e não o fez. Se chegar ao plenário, vamos derrubar. É um projeto natimorto”, sublinha.
Irmã Dulce é a primeira santa brasileira
Na justificativa da decisão, o diretor-executivo do Itesp, Lucas Bressanin, afirmou “ser de notório conhecimento que a senhora Maria Rita Sousa Brito Lopes Fontes, conhecida como Irmã Dulce, foi uma mulher que dedicou sua vida a obras de caridade, trabalhos sociais e assistência ao mais necessitados, sendo assim uma figura que tanto contribuiu com o país e foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz”.
Baiana, a Irmã Dulce é considerada pela Igreja Católica a primeira santa nascida em solo brasileiro e foi canonizada pelo Papa Francisco em 2019.
Nascido na Argentina, Che Guevara foi um revolucionário que lutou para implantar o comunismo em Cuba, na África e em vários países sul-americanos, mas acabou morto pelo exército na Bolívia, em 1967.
Os crimes de Che Guevara são relatados no livro “Che Guevara's Forgotten Victims”, de María C. Werlau, diretora executiva do "Free Society Project", uma organização que atua a partir de Washington para denunciar crimes contra a humanidade cometidos em Cuba.
“Ernesto Guevara é o maior símbolo do ‘revolucionário chique’, um ícone da cultura de massa. Ironicamente, a maior parte de seus devotos sabe muito pouco, ou mesmo nada, sobre ele”, argumenta Werlau. “Na Sierra Maestra, por exemplo, ele se mostrou um verdadeiro serial killer”, completa. Como apontou reportagem desta Gazeta do Povo, em 1957, durante as atividades da guerrilha, Guevara escreveu para o pai: “Hoje descobri que realmente gosto de matar”.