O agronegócio segue como fiel da balança nas exportações brasileiras. O saldo acumulado da balança comercial continua liderado pela pauta que vem do campo.
De janeiro a agosto o superávit soma US$ 32 bilhões, resultado quatro vezes superior ao registrado no mesmo período do ano passado, quando ficou em US$ 7,31 bilhões.
A expressiva diferença tem basicamente duas explicações. A primeira, na também expressiva redução das importações, reflexo da crise econômica que reduz o poder de compra – este ano o Brasil comprou 32% menos da China, -19% do Mercosul, -18% da União Europeia e -16% dos Estados Unidos.
A segunda está no desempenho direto do agronegócio, com superávit de US$ 6,39 bilhões. O que poderia ser ainda melhor, não fosse a necessidade do país de importar produtos básicos da agricultura e alimentação, para consumo humano e animal. Problemas não apenas com o clima, mas com a falta de planejamento e organização entre as cadeias produtivas que têm sinergia nos obrigou a importar milho, feijão e arroz. E não foi pouco.
Respeitadas as devidas proporções e bases de cálculo, foram quase 3.000% a mais no milho, 540% no feijão e 360% no arroz. Isso mesmo, tivemos que importar para comer, para garantir o abastecimento interno.
Tudo começou com o clima. Tivemos quebra de safra por problemas climáticos. Mas a lição foi além. Para um país que lidera exportações em cadeias produtivas de grãos e carnes, ainda nos falta organização e planejamento aos sistemas de produção. Da iniciativa pública ao setor privado. Do produtor às políticas públicas ao agronegócio.
O Brasil não conseguiu, por exemplo, dimensionar a demanda por milho. Entramos no mercado exportação, chegamos a embarcar quase 30 milhões de toneladas em 2015, mas deixamos descoberto o consumo doméstico, principalmente a produção de carnes. Faltou milho, como faltou estratégia.
Demos um jeito e tivemos que equacionar essa relação. Mas a que preço? Vamos reduzir nossas exportações de milho a menos de 20 milhões de toneladas em 2016, o que sugere ao mercado que o Brasil ainda não é um fornecedor seguro do cereal. E aumentamos o custo e reduzimos as margens na produção de carnes, em especial de frango e suínos. Aliás, foi o preço do milho que deflagrou a atual crise da suinocultura nacional. E aqui, um contrassenso. Apesar da crise, ou com a crise, o setor foi um dos destaques nas exportações de agosto. O valor exportado, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, cresceu 19,8%. A quantidade embarcada, 66 mil toneladas, é a maior em 10 anos.
Isso não significa, necessariamente, que o Brasil consolidou sua presença no mercado internacional de carne suína. O país abre, sim, novos mercados. Neste momento, porém, o maior volume e o consequente valor exportado são porque a carne de porco brasileira está barata e, portanto, com preço competitivo para o comprador externo. De qualquer forma, mesmo que com receita cambial questionável, não deixa de ser uma oportunidade.
Top 10
Se a China continua sendo o maior comprador do agronegócio brasileiro, com 17% das compras, a soja continua sendo o principal produto da pauta de exportações do setor. A oleaginosa respondeu sozinha por 14,5% das vendas totais, com receita no período de quase US$ 18 bilhões.
Na lista dos dez produtos que lideram a pauta que vem do campo aparecem outros grãos, como milho e café, carnes bovina e de frango, açúcares bruto e refinado, celulose, couros e peles. Uma pauta relativamente concentrada. Os dez itens representam 36% das exportações gerais.
De 2001 a 2013 a balança comercial brasileira registrou 13 saldos positivos consecutivos. Em 2014, pela primeira vez em 14 anos, um déficit de US$ 4,1 bilhões. Retomada novamente em 2015 com um resultado de US$ 19,7 bilhões. E um novo e provável superávit em 2016, apesar do cenário adverso da economia do país. Em todos os anos da análise, produtos da agricultura e pecuária foram condição ao balanço positivo.
No caso de 2014, o segmento teve papel fundamental para evitar um tombo ainda maior. Nesse ano, o saldo do agro atingiu US$ 80,1 bilhões. Um resultado espetacular na composição geral, não fosse o tombo ainda maior, de US$ 84,2 bilhões, dos demais setores, o que resultou no balanço negativo.