As diferenças são gigantes, a começar pela população. Com uma área equivalente a um terço do território brasileiro, a Índia tem seis vezes mais gente que o Brasil. Aí vêm as questões culturais, religiosas e também de tecnologia e desenvolvimento, econômico e social. Um cenário que estabelece um verdadeiro abismo entre os dois países. Mas que não esconde similaridades e interesses comuns, principalmente comerciais, onde o potencial é enorme e as oportunidades, então, inúmeras. Após uma semana na Índia, com a Expedição Safra 2012/13, do Agronegócio Gazeta do Povo, além da adaptação ao fuso – oito horas e meia à frente do horário de Brasília – está sendo possível não só conhecer, como mergulhar na Índia urbana e rural, de um país que cresce, surpreende o mundo e está cada vez mais ocidental.

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Na maior cidade da Índia, Mumbai, na Costa Oeste, o visível contraste do rico e do pobre, da favela e das mansões, da frota sucateada e dos carros de luxo, de uma moeda desvalorizada ($ 60 Rúpias é igual a US$ 1) com um dos PIBs (Produto Interno Bruto) que mais cresce no mundo. Distorções e divergências que desafiam o mundo a entender a realidade, compreender as mudanças e tentar imaginar para onde caminha a Índia. Com mais de 1,2 bilhão de habitantes, talvez o que de mais certo possa estar relacionado com o futuro do país é o agronegócio. Da produção e do consumo, de uma oferta regular e uma demanda bastante sensível, a considerar que qualquer que seja o movimento, para cima ou para baixo, será de milhões de pessoas, milhões de toneladas e bilhões de dólares, reais ou rúpias, a moeda indiana.

O aumento do PIB na Índia, que também significa renda maior, promove o consumo e estimula a demanda, naturalmente requer maior investimento em produção. O que de certa forma está ocorrendo. Mas como a expansão da produção doméstica é bastante limitada, não há outra saída que não seja trazer de fora, importar alimentos, commodities agrícolas e derivados. É onde entra o Brasil, um dos poucos parceiros internacionais capazes de garantir o abastecimento, em volume e periodicidade. Um potencial à que se soma o indicador que aponta para um crescimento mais urbano que rural da população.

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Em 2022, segundo dados da FAO (Organização Mundial das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), a Índia terá 1,41 bilhão de habitantes, crescimento de 12,6% sobre 2012. A população rural tem aumento estimado em menos de 6%, enquanto que a urbana cresce mais de 28%. Se nesses 10 anos a Índia consumir 1 quilo a mais de alimento, pelo aumento da renda per capita ou então pelo crescimento da população, é possível imaginar o tamanho desse mercado. É claro que a relação não é direta, mas se a economia (PIB) indiana continuar a crescer acima de 5% ou até próximo da casa dos dois dígitos, como chegou a ser registrado em algumas ocasiões na última década, não é de duvidar que isso realmente seja possível.

Se hoje um dos principais parceiros do agronegócio brasileiro é a China, não tenho dúvidas de que amanhã será a índia. Pode ser daqui a cinco ou dez anos, mas vai acontecer, e logo. O ritmo de intensificação desse comércio bilateral vai depender da disposição dos lados em se adaptar, atender demandas específicas e respeitar diferenças. Quebrar paradigmas culturais e comerciais, mas principalmente de hábitos de um povo que preserva tradições seculares de alimentação e consumo. O Brasil tem muito para vender e também para comprar. Os indianos não só estão dentro da cadeia produtiva do agronegócio, como estão presentes no Brasil, produzindo ou exportando. A pauta é extensa, vai de grãos e fibras a agroquímicos e fertilizantes.

A Expedição Safra continua sua exploração pela Índia até a próxima sexta-feira. Outros detalhes sobre a viagem ao 10.º país visitado pelo projeto, amanhã, na edição do Agronegócio Gazeta do Povo.

Trigo IA reunião é técnica, em tese para falar de pesquisa, questões agronômicas e de tecnologia. Mas o que deve realmente dominar as discussões do 8.º Fórum Nacional do Trigo e 7.ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale (RCBPTT), nesta semana, em Londrina, Norte do Paraná, é o abastecimento. Em uma das apresentações o pesquisador Sérgio Roberto Dotto, chefe-geral da Embrapa Trigo, de Passo Fundo (RS), vai destacar que o Brasil tem tecnologia e áreas disponíveis para a produção de trigo, condição para por fim à dependência do produto importado. Com todo o respeito, isso todo mundo sabe. A questão é: porque não faz?

Trigo IICom a quebra climática provocada pelas geadas, a produção de trigo do Paraná deve ser entre 30% e 40% menor que no ciclo anterior. O revés no estado, que junto com o Rio Grande do Sul respondem por quase 90% da produção nacional, amplia a dependência externa do produto para mais de 70%. Ou seja, de cada 10 pacotes de trigo consumidos no Brasil, pelo menos sete terão de ser importados. Para piorar a situação, Argentina e Paraguai, fornecedores naturais para o mercado brasileiro, também estão com problemas de abastecimento. A Argentina chegou a suspender os registros de exportação.

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