“É um default não embarcar no prazo”. Foram com estas palavras que o Grupo Sunrise, maior comercializador chinês da soja brasileira, justificou o cancelamento da compra de dois milhões de toneladas do grão em razão do atraso nos embarques em portos brasileiros. Isso representa a falta de infraestrutura e eficiência da cadeia logística do país.
Além disso, publicações recentes divulgaram um anúncio de que a China estaria investindo em uma nova usina de processamento de oleaginosas, o que lançou uma nova preocupação aos produtores e exportadores brasileiros: o país asiático estaria considerando novas alternativas à soja, dando preferência à compra de colza e canola, como fez recentemente com a Austrália.
Ficou claro que a preocupação dos chineses é com os problemas logísticos causados pela infraestrutura precária dos portos na América do Sul. Problemas que enfrentamos e esperamos soluções há décadas.
Em cinco anos, a safra brasileira de grãos saltou de 135 para 180 milhões de toneladas, mas a infraestrutura não acompanhou este avanço. Praticamente todo o transporte depende de caminhões; ferrovias e hidrovias funcionam como transbordo. Não existe um planejamento integrado de transportes.
Enfrentamos uma exaustão da logística: a rodovia de acesso ao Porto de Santos recebe 4,6 mil caminhões diariamente e quando a safra chega ao porto a situação ainda piora. Para se ter uma ideia, em março de 2013 o Porto de Paranaguá (PR) registrou uma fila de mais de uma centena de navios. Em 2012, essa marca só foi atingida em junho, e ainda assim foi uma marca negativa.
No ano passado, a Aprosoja fez uma comparação dos custos de transporte do Brasil e dos Estados Unidos até a China. Gastamos mais que o dobro para exportar nossos grãos. Esta é mais uma prova da logística ineficiente do nosso país. Fica difícil escoar nossa supersafra numa estrutura que privilegia o transporte rodoviário. Consequência: o produtor gasta em frete a boa rentabilidade que teve com a safra.
O agricultor brasileiro está trabalhando em um panorama de alto risco no que diz respeito à infraestrutura e logística. O lado bom é que nossos produtores são eficientes. Graças à alta no preço das commodities, que encobriu nossas ineficiências, pode-se dizer que o agronegócio brasileiro vive um momento de abundância.
Ainda assim, não podemos nos descuidar. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), o custo interno de movimentação dos grãos cresceu. Com isso, os exportadores começam a pagar menos pelos grãos, prejudicando também os produtores.
No fim, produtores e exportadores receberão valores inferiores do que deveriam. É um verdadeiro descasamento da infraestrutura brasileira com a expansão do setor agrícola.