Ações orientadas ao longo prazo nem sempre são as preferidas dos governantes, uma vez que seu ganho político não costuma ser colhido imediatamente. Essa parece ter sido a lógica que embasou os ajustes no Plano Agrícola e Pecuário 2015/16. Anunciado na semana passada, o programa tenta compensar com um orçamento 20,9% maior o reajuste de 2,25 pontos na taxa média de juros e o corte de 11,8% na verba direcionada a investimentos.
Em meio ao fraco desempenho da economia nacional, o setor já imaginava que não ficaria imune ao ajuste fiscal que está sendo conduzido por Brasília. O grande problema é que, mesmo com mais recursos, os agricultores tendem a ficar na defensiva nesta safra, mostra a reportagem de capa do caderno Agronegócio.
Com os preços das principais commodities agrícolas em baixa e forte aumento nos custos de produção, os agricultores tendem a se concentrar no custeio da lavoura, evitando dívidas de longo prazo. Isso reflete em setores como o de máquinas agrícolas, que após registrar recorde nas vendas em 2013, enfrenta tombo nas vendas pelo segundo ano consecutivo.
Ao ampliar em 33,5% o orçamento para financiar custeio e comercialização, o governo prioriza o curto prazo e transfere para o futuro a resolução de problemas como o déficit de armazenagem, que começava a ser contornado pelo setor . O quadro vai contra a fala da própria ministra da Agricultura, Kátia Abreu, ao defender as mudanças e argumentar que “o ajuste fiscal não se faz apenas com cortes, mas também com investimentos.”
Com praticamente todas as cartas na mesa, o campo começa a ter uma noção clara sobre como serão as condições para viabilizar a safra 2015/16. Já o lado afetado pela queda nos investimentos concentra as últimas apostas na agricultura familiar, que terá seu Plano Safra lançado na próxima segunda-feira (15). Com orçamento bem menor que o da produção empresarial (R$ 24 bi no último ano), o setor pode ao menos atenuar a queda prevista para este ano em algumas indústrias ligadas ao campo.
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