O Brasil tem condições de ser muito mais do que uma grande fazenda que alimenta o mundo. Pode ser uma potência no campo e também fora dele. A indústria do biodiesel, assunto de capa do caderno Agronegócio de hoje, mostra há dez anos que é possível gerar riqueza e reduzir a emissão de gás carbônico ao mesmo tempo. Matéria-prima para isso não falta. Falta é vontade política, plano e, principalmente, que os prazos determinados em planejamento sejam cumpridos.
O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), criado em 2004, estava parado há pelo menos quatro anos. As indústrias que apostaram na produção do combustível renovável, fabricado em maior parte à base de soja, investiram bilhões no início do programa. Acreditaram, assim como o setor do etanol, na intenção do governo brasileiro de tornar o país menos dependente do mercado externo. O aumento da mistura vem ocorrendo de fato, mas aos solavancos.
No início deste ano, 27 das 67 usinas de biodiesel instaladas no país foram sacrificadas, fecharam suas portas até que o governo definisse quando e para quanto elevaria o porcentual do combustível de soja ao diesel. Agora, com a aprovação do aumento da mistura de 5% para 6% até outubro e de 7% a partir de novembro, o ânimo volta a tomar conta dos empresários do biodiesel. Os agricultores que produzem soja também devem ganhar com uma demanda extra pelo produto.
O governo promete que até 2020 vai elevar o porcentual para 10%. Mas, se hoje a indústria afirma que já tem condições de atender a essa demanda, daqui a seis anos a meta vai estar defasada. Ainda bem que o agronegócio e suas indústrias têm sido eficientes em uma luta quase que independente, a ponto de conseguir abrir mercado no exterior e vender um produto que no Brasil serve mais como instrumento para salvar a Petrobrás – que passa por um momento delicado em ano de eleição e que há anos gasta bilhões de dólares importando diesel – do que estimular a economia, o campo, a indústria e, de quebra, reduzir a poluição no meio ambiente.