O excesso de umidade causa falhas nas lavouras do Paraná.| Foto: Luiz Tadeu Jordão/Divulgação

Nos últimos meses institutos meteorológicos de todo o mundo previram que o fenômeno “El Niño” presente neste ano poderia ser o mais severo das últimas 5 décadas, e que este evento climático permaneceria pelo menos até março de 2016, impactando negativamente a safra brasileira de grãos de 2015/2016. Pois bem, este prognóstico está concretizando-se.

CARREGANDO :)

Em toda a região Sul do Brasil o excesso de chuvas está prejudicando diretamente o desenvolvimento das lavouras de soja. Na área experimental do Portal Ciência do Solo, no município de Itambé-PR, região de Maringá-PR, desde o início de setembro até a última sexta-feira, 11 de dezembro, foram registrados 1172 mm de chuva (Figura 1), ou seja, em apenas 102 dias choveu muito acima do previsto para toda a safra. Adicionalmente, a freqüência das chuvas é praticamente diária, com média de 11,5 mm/dia, e os produtores rurais da região já apostam na redução de 10 a 15% da safra de soja.

Enquanto isso, nas regiões Centro-Oeste e Centro-Norte, com destaque para o Mato Grosso, Goiás, Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, a escassez de chuvas também prejudica diretamente o potencial produtivo das lavouras que certamente terão produtividades reduzidas, embora ainda seja cedo para estimar um número de quebra de safra.

Publicidade

A água notadamente é o insumo mais importante da lavoura, entretanto, o excesso ou a escassez hídrica afeta o desenvolvimento das plantas, e um solo com qualidade tem papel fundamental para minimizar os efeitos do desbalanço hídrico da interface solo-planta.

A exemplo do que ocorre em diversas região do Sul do Brasil, em solos argilosos principalmente sob condições de compactação das camadas agricultáveis, somado ao grande volume de chuvas, a drenagem de água no perfil do solo ocorre lentamente favorecendo seu acúmulo na superfície do solo. Por consequência, é reduzida a oxigenação do solo, prejudicando o desenvolvimento de raízes e de microorganismos benéficos, como as bactérias, que atuam na fixação biológica de nitrogênio (FBN) às plantas de soja. Adicionalmente, os processos de erosão laminar do solo são acentuados e acarretam em quebras de curvas de nível, e perdas substanciais de solo e nutrientes.

Acúmulo de água em curvas de nível. Na foto, lavoura de Itambé, Paraná.
Acúmulo de água forma lagoa em lavoura de Itambé, Paraná.
Falha de estande de plantas e pontos de erosão do solo causado pelo excesso de chuvas e manejo inadequado do solo. Na foto, lavoura do distrito de Warta, em Londrina (PR).
Excesso de chuva causa falha de estande de plantas em lavoura do distrito de Warta, em Londrina (PR).
Soja germina em solo descoberto com pouca palhada, com processo avançado de erosão, em Arapongas (PR).

O déficit de oxigênio no solo e de radiação solar provocado pelo excesso de umidade e dias nublado, respectivamente, também limita o funcionamento dos processos bioquímicos dessas plantas, desde a absorção de nutrientes, captação de gás carbônico (CO2) pelas folhas e síntese de energia, reduzindo consideravelmente o potencial produtivo da cultura. É importante destacar que este tipo de ambiente favorece o desenvolvimento de fungos de solo que reduzem o vigor das sementes e a produtividade da soja, além de facilitar a propagação da ferrugem asiática causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi.

Já nas regiões Centro-Oeste e Centro-Norte do Brasil o cenário é oposto ao verificado na região Sul do país, embora apresentem a mesma ordem de importância e dano econômico às lavouras de soja.

Nestas regiões, a ausência de chuvas desde o plantio da soja certamente refletirá em quebra de rendimento de grãos. Após o plantio, é necessária a presença de água para que as sementes germinem, e na escassez deste valioso insumo, há perda de vigor de sementes e falha no estande de plantas, reduzindo o potencial produtivo da lavoura. Vale ressaltar que são poucos os cultivares de soja que engalham para compensar as falhas de estande de plantas.

Publicidade

Durante o desenvolvimento da soja, as altas temperaturas na superfície do solo juntamente com o baixo regime de chuvas também afetam o desenvolvimento das raízes e o aproveitamento dos fertilizantes, uma vez que não há água suficientemente disponível no solo para que haja a adequada absorção de nutrientes, bem como não há umidade e temperatura em níveis ideais para a promoção de microorganismos da FBN. Apenas a soma destes fatores já seria suficiente para reduzir significativamente a produtividade da cultura.

No entanto, a demanda por água nos estádios de florescimento e enchimento de grãos é crucial para a produção de grãos. Nestes estágios, com baixa umidade no solo, é notória a má formação e pegamento de flores, que refletirá em baixo número de vagens e peso de grãos, uma vez que os processos de redistribuição de água e nutrientes alocados nas folhas, hastes e vagens, para os grãos, são fortemente prejudicados pela escassez de água no solo.

Se a água é o insumo mais valioso para o desenvolvimento das plantas, então qual seria a solução para otimizar seu uso? À vista disso, e independente das ações dos eventos climáticos, deve-se intensificar a adoção de boas práticas agrícolas dentro da porteira da fazenda, em especial ao manejo adequado dos solos visando o melhor aproveitamento da água das chuvas, dos fertilizantes e da matéria orgânica do solo por meio da rotação de cultura com vista à lucratividade dos sistemas produtivos, pelo menos no outono/inverno (safrinha), conforme amplamente recomendado pela Embrapa Soja e outras instituições de pesquisa.