Três anos depois do último socorro, o governo volta a apoiar e subsidiar a comercialização e o escoamento de milho no Brasil. Com o preço pago ao produtor abaixo do mínimo, amanhã ocorre o primeiro leilão de Pepro – Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural ou Cooperativa. Isso significa que o cenário e as perspectivas não estão muito animadores para o mercado do cereal. Em 2010, ano dos últimos leilões, o milho fechou o ano com preço médio de R$ 15,40 a saca de 60 quilos, próximo do valor fixado na política de preço mínimo e abaixo do custo de produção das principais regiões produtoras.
Desde então, muita coisa aconteceu com essa cadeia produtiva com algumas mudanças inclusive estruturais. Outras, porém, frágeis, que precisam se consolidar sob pena de colocar em risco o crescimento exponencial e com potencial dessa cadeia produtiva. Nesses três anos a produção total cresceu mais de 10 milhões de toneladas. A produtividade média das lavouras brasileiras aumentou e a safrinha ou segunda safra virou safrona. Embora não na mesma proporção, o consumo interno também cresceu, a indústria da carne tenta fazer a sua parte e já temos até experiências com usinas de etanol de milho, no Mato Grosso.
Mas foram as exportações, que dispensaram os leilões, a salvação das lavouras de milho. O grande problema é que os embarques só ocorreram porque ocupamos um lugar que não é nosso. Em 2012/13 só conseguimos exportar mais de 20 milhões de toneladas porque os Estados Unidos, o grande exportador mundial, saiu do mercado, forçado por uma quebra histórica de produção. E agora, como será com o retorno dos norte-americanos? A pergunta começa a ser respondida com os preços em queda e a necessidade dos leilões para apoiar o escoamento e garantir ao menos o preço mínimo.
Nosso grande desafio então não é produzir. Isso o produtor brasileiro faz com maestria. A questão também não é necessariamente logística, para achar que é possível resolver o problema subsidiando o escoamento. O que o milho brasileiro precisa é de mercado. Não dá para ampliar a produção, ano após ano, sem a garantia mínima de mercado externo ao cereal. Não dá para ficar esperando uma redução na oferta mundial para ter preço. O que aconteceu nos Estados Unidos em 2012, quando o país perdeu mais de 100 milhões de toneladas para o clima, pode até ocorrer de novo. Pode também nunca mais acontecer. Precisamos fazer apostas em nosso próprio mercado. E não no mercado dos outros, que, esporadicamente, é ocupado pelo produto brasileiro.
Está mais do que na hora de o Brasil ocupar, conquistar e consolidar mercado para o milho. Não tenho dúvida que daqui a alguns anos vamos produzir mais milho do que soja no Brasil. Isso pode ocorrer em cinco ou dez anos. O ritmo vai depender da principal variável da agricultura, que não é mais apenas o clima, mas o mercado. Milho então não precisa de leilão, mas de preço e de mercado.
Outra questão que merece ser observada é de onde sai e para onde vai o milho desses leilões. A operação de amanhã é para remover o produto do Mato Grosso para 13 estados. O cereal só poderá ser destinado para os estados de Amazonas, Acre, Amapá, Roraima, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Rio de Janeiro e Espírito Santo, além de o norte de Minas Gerais. Em tese, unidades da Federação que produzem menos do que demandam. Contudo, na prática existe um efeito colateral na região. Ceará e Pernambuco, por exemplo, são abastecidos principalmente por Piauí e Bahia, que têm suas cotações rebaixadas quando desse tipo de operação, uma vez que tem milho de outras localidades entrando na região com escoamento subsidiado pelos leilões do governo.
Com a safrinha que está sendo colhida o Brasil terá em 2012/13 uma produção de 78 milhões de toneladas de milho. Em 2010, quando o governo apoiou o escoamento das regiões produtoras para as regiões consumidoras, a cotação média do ano no mercado Paraná foi de R$ 15,40. Em 2011 e 2012, sem intervenção, as médias foram de R$ 22,41 e R$ 23,52, respectivamente. Em 2013, até junho, a média do ano no estado foi de R$ 22,01. Agora é esperar o leilão de amanhã e outros que devem estar por vir e acompanhar as cotações em todos os estados, que devem cair, salvo uma grande nova frustração de safra nos Estados Unidos, algo improvável neste momento.O Paraná é o maio produtor de milho do país.
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