A desilusão dos agricultores com o milho não é recente, mas reaparece na medida em que avança a colheita da safrinha, mostra o caderno Agronegócio desta terça-fei­ra. Após a quebra histórica da safra dos Estados Unidos, em 2012/13, os preços do cereal dispararam no mercado internacional, criando um quadro extremamente atraente para o produtor brasileiro, que estimulou um forte aumento na área plantada. Prova disso foi que na safra passada o Brasil conseguiu colher um recorde de 81,4 milhões de toneladas do cereal, conforme a Expedição Safra Gazeta do Povo.

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Mas a lua de mel acabou. Os Estados Unidos se recuperaram, e o abastecimento global de milho voltou a um patamar aceitável pelo mercado, gerando uma acomodação nos preços. O novo cenário repercutiu no Brasil e, já na safra passada, foi preciso pedir socorro. Com cotações abaixo de R$ 10 por saca em Mato Grosso, o governo agiu e ajudou a escoar pelo menos 10 milhões de toneladas por meio de leilões de contratos de opção, Pepro e compras dentro do programa de Aquisição do Governo Federal (AGF).

Desconfiado, o produtor reduziu a área dedicada ao milho em 2013/14, tanto na primeira quanto na segunda safra. A incerteza motivou, inclusive, o aumento na área da soja safrinha, prática não recomendada pelos técnicos e que também não garantiu lucro certeiro.

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Com menor oferta doméstica, esperava-se um alento para os preços do cereal, mas a situação não se confirmou. Com cotações se reaproximando do nível mínimo, o sinal de alerta reacende, e o próprio governo reconhece a necessidade de intervir.

É inegável o benefício que o milho mais barato traz para cadeias que utilizam o cereal como insumo, a exemplo da suinocultura, mostrada nesta edição. Apesar disso, na média, o impacto acaba sendo negativo, pois coloca em xeque a expansão da cultura no país.

Com a colheita chegando a 5% da área no Paraná e 10% em Mato Grosso, líderes nacionais na produção da safrinha, a necessidade de intervenção cresce, e não pode ser ignorada. No contraponto, fica para o agricultor novamente a lição de que a venda da produção é assunto tão sério quanto o manejo da lavoura, exigindo atenção constante e estratégia para driblar os momentos desfavoráveis.