O uso político de estruturas mais técnicas e estratégicas para o desenvolvimento econômico e social do país tem levado o Brasil a uma exposição negativa e desnecessária, com reflexo direto e desastroso na imagem, confiança e referência de pessoas, entidades e instituições. No mínimo lamentável o desgaste provocado pela Operação Agro-Fantasma, que na semana passada prendeu e afastou funcionários e servidores públicos e privados de estatais, como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), bem como de associações e cooperativas de produtores.
Eu diria que uma situação vergonhosa e constrangedora, ao estado e ao país, a considerar a causa nobre a que se destina o programa em investigação. Desviar produto, recurso ou finalidade de um programa de combate à fome vai muito além da irresponsabilidade. É crime.
Contudo, é preciso separar o joio do trigo. Nem tudo é fraude e nem tudo é irregularidade. Assim como nem todo suspeito é culpado. O fato é grave e precisa ser investigado. Mas a Conab continua sendo uma instituição de respeito, com pessoas sérias e de bem, com atribuições essenciais ao abastecimento e segurança alimentar, de cidadania e soberania.
Não vamos julgar o todo pela parte e muito menos condenar o suspeito. Os fatos devem ser apurados e os culpados punidos, até como forma de enquadrar e disciplinar condutas irregulares. O grande desafio, porém, não está em identificar. E sim em punir as irregularidades, em prevenir e impedir que elas voltem a ocorrer.
E não há como fazer isso sem “despolitizar’’ o comando dessas estruturas, que demandam indicação mais técnica que política. Não vamos esquecer que há dois anos acusações de irregularidades na mesma Conab derrubaram o então ministro da Agricultura, Wagner Rossi. O presidente da companhia na época, Evangevaldo Moreira dos Santos, sobreviveu à maré, mas, se não tivesse pedido para sair, provavelmente teria sido demitido. Ou seja, os problemas envolvendo o órgão não são novidade. Como também já passou da hora de se dar um basta.
O caminho talvez seja partir para indicações por competência, com apadrinhamento técnico, não político. Isso é um sonho, é verdade. Um sonho em que, apesar de distante, é preciso acreditar. E começar, de repente, pelo Ministério da Agricultura (Mapa). Dos últimos três ministros, um foi indicado porque era parente de um político importante do Executivo Federal, outro era radialista e o último, porque tem pretensões político-partidárias em seu estado de origem nas eleições de 2014. Aí realmente fica difícil fazer o dever de casa. Isso no próprio Ministério da Agricultura. Imagine, então, em suas coordenadas, como a Conab.
Etanol nos cinemasOs Estados Unidos não perdem a oportunidade de promover o etanol de milho como a melhor opção em biocombustíveis. Há duas semanas o merchandising “pro-corn” invadiu os cinemas de todo o Brasil com Aviões, uma produção inspirada em Carros, outro sucesso de bilheteria do mundo mágico de Walt Disney. Logo no início da história, em um diálogo entre dois personagens sobre que combustível usar, um deles explica que hoje existem diversas fontes alternativas, como soja, cana de açúcar e outros. “Mas nada como o bom e velho etanol de milho”, completa um dos interlocutores. Entre os detalhes da produção está o fato de a história usar como cenário principal o cinturão do milho dos Estados Unidos e o personagem protagonista ser um avião pulverizador, chamado Dusty (empoeirado, em inglês).
Dusty brasileiroO Brasil também tem seu modelo etanol de avião agrícola. A diferença é que por aqui a matriz do combustível renovável é a cana de açúcar. Fabricado há mais de 40 anos, em 2005 o Embraer Ipanema ganhou a versão etanol. Em quatro décadas, a Embraer já entregou mais de 1,2 mil Ipanemas. Desde o ano passado, as companhias aéreas Gol e Azul também fazem voos experimentais com bioquerosene, o combustível produzido à base de cana de açúcar. A título de curiosidade, um Boeing 737-700 com capacidade para 144 passageiros consome mais de 3 mil litros de combustível/hora.
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