Com faturamento previsto para 2013 de R$ 2,5 bilhões – crescimento de 150% sobre o R$ 1 bilhão de 2003 – ao completar 50 anos de fundação, a Cocamar reafirma o cooperativismo não mais como alternativa e sim como condição ao desenvolvimento econômico e social de Maringá, da região, do estado e, porque não, do país. Já são cinco as cooperativas que compõem o clube daquelas que faturam mais de R$ 2 bilhões. Se formos considerar a também expressiva marca de R$ 1 bilhão, são quase dez cooperativas no estado. Contudo, o que diferencia a Cocamar e que faz da sua história um case é o fato de que a potência que vemos hoje por pouco não fechou as portas e deixou de existir.
Até a última sexta-feira, quando comemorou mais um aniversário, foram cinco décadas de muitas conquistas, mas também de muitos problemas e desafios que chegaram a colocar em xeque a integração a partir do modelo cooperativo. Uma crise sem precedentes que se abateu na segunda metade de década de 90 quase abreviou a existência da cooperativa a pouco mais de 30 anos. Foi quando a saúde financeira da Cocamar, depois de sucessivos planos econômicos, ficou fortemente abalada a ponto de mobilizar não apenas cooperados, clientes e fornecedores, mas o público e o privado, o governo e a sociedade, a considerar o tamanho que seria o impacto socioeconômico de um possível encerramento das atividades.
Foi quando a cooperativa, mais uma vez, precisou se reinventar, como em tantas outras ocasiões e imposições alheias à sua vontade. Da monocultura do café ao ciclo do algodão, da seda, dos grãos e da citricultura, a inovação e a diversificação sempre foram marcas registradas de agregação e transformação do negócio. Ocorre que a ameaça na ocasião era outra, de natureza financeira e que comprometia a capacidade de recuperação da cooperativa, que acumulava um alto índice de endividamento, cenário que também tinha a ver com gestão, mas principalmente com um ambiente macroeconômico hostil, de incertezas e instabilidades que colocavam em risco até mesmo modelos sustentáveis como o cooperativismo. Mas como que renascida das cinzas, a exemplo da Fênix, o pássaro imortal e lendário da mitologia grega, no início dos anos 2000 a cooperativa começa a dar a volta por cima, amplia seu parque agroindustrial, investe forte na diversificação e na estratégia do varejo. Manteve-se fiel às origens, continuou a produzir e industrializar café, mas tinha também soja, milho, trigo e laranja e derivados que começavam cada vez mais ir direto à gôndola do supermercado e de lá para a casa dos brasileiros. A Cocamar transcende então a relação com o cooperado e estabelece contato direto com o consumidor final, com a sociedade organizada. A reviravolta tem muito a ver com política, economia e finanças. Envolveu governo, fornecedores e agentes financeiros. Como consequência, modernizou a gestão, definiu estratégia e restabeleceu o poder de compra e venda e devolveu a capacidade de negócios da Cocamar. Mas tudo isso só foi possível graças à insistência, persistência e humildade de uma diretoria que lutou para salvar não apenas um negócio, mas um ideal. Uma crença em um sistema que também tem seus altos e baixos, mas que tem algo que nenhum outro modelo econômico consegue oferecer: integração, fidelidade e igualdade de condições entre pequenos, médios e grandes cooperados. Eram gestores que também eram cooperados, produtores ou funcionários que estavam, portando, cuidando do próprio negócio e não do negócio de terceiros. Ainda assim, não teriam êxito se não fosse o entendimento, a compreensão e aposta dos cooperados. Foi a confiança de cada um dos milhares de cooperados, na prática os responsáveis pelas finanças da cooperativa, que seguraram as pontas, endossaram o negócio, as dívidas, as renegociações, os novos investimentos e o novo modelo de gestão. Hoje, contar a história é importante, embora o tamanho da Cocamar dispense qualquer apresentação, defesa ou justificativa. Com sede em Maringá e presente em dezenas de municípios da parte de cima do mapa do Paraná, a Cocamar tem mais de 13 mil pessoas diretamente ligadas à cooperativa. Dessas, 11,5 mil são cooperadas. Se multiplicadas por quatro, numa conta que considera a família dos associados, estamos falando de quase 50 mil pessoas, um exército que direta ou indiretamente tem suas vidas impactadas não pelo cooperativismo, mas por apenas uma cooperativa. Quantas cidades do Paraná tem população maior que isso? Apenas 32, segundo o censo do IBGE de 2010, em uma comparação que demonstra a relevância da cooperativa como instrumento de promoção social e interesse público no desenvolvimento do estado. Outro dado que vale pontuar é o faturamento das cinco maiores cooperativas do estado versus o orçamento das cinco maiores prefeituras do Paraná. Em reportagem publicada em maio deste ano, o Agronegócio Gazeta do Povo mostrou que as receitas das cooperativas Coamo, CVale, Cocamar, Lar e Agrária em 2012 somaram mais de R$ 17 bilhões, contra R$ 8,3 bilhões dos municípios com os maiores orçamentos do estado – Curitiba, Londrina, Maringá, Araucária e Cascavel. Enfim, dá para dizer que Maringá comemora dois aniversários por ano. O da cidade, que surgiu em 1947 e o da Cocamar, fundada em 1963.
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