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Nos mais de dez mil quilômetros que percorreu pelo país nas últimas duas semanas, a Expedição Safra Gazeta do Povo se deparou com duas realidades muito diferentes. Nos primeiros dos seis roteiros previstos até maio, uma das equipes roda os estados do Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Na metade de cima do país, outra visita o Mato Grosso, Rondônia e Pará – esses dois últimos, destinos inéditos que o projeto inaugura no ciclo 2012/13.

Dentro da porteira, o “Brasil do Sul” e o “Brasil do Norte” competem em condições de igualdade e, juntos, avançam na colheita para tirar do campo uma safra recorde de grãos. Mesmo com falta de chuva no plantio e excesso de umidade na colheita, os produtores brasileiros tem tudo para atropelar os problemas climáticos e alcançar a marca histórica de 185 milhões de toneladas nesta temporada, conforme indicador da Expedição.

Da porteira para fora, porém, as diferenças entre esses dois mundos se acentuam. Consolidada, a agricultura sulista conta com uma logística de armazenagem e escoamento de safra que, apesar de ainda muito longe do ideal, está mais estruturada. Em franca expansão, o agronegócio do Norte encara problemas estruturais sérios que ameaçam os sonhos de milhares de agricultores, que até hoje aguardam o futuro chegar ao seu entorno. Dentre os diversos gargalos logísticos enfrentados por esses produtores, o transporte é, sem dúvida, o maior deles.

Se atualmente milhões de toneladas de grãos produzidas na metade Norte do país precisam encarar uma cara e perigosa jornada de mais de dois mil quilômetros rumo ao Sul, o caminho da safra poderia ser encurtado à metade, pelo menos. Saindo do Oeste e do Médio-Norte de Mato Grosso, as BRs 163 e 364 seriam as ligações mais práticas aos portos de Porto Velho (RO) e Santarém (PA), rumo à exportação. Um sonho que começa a sair do papel, mas que ainda está longe de se tornar realidade.

Na semana passada acompanhei os técnicos e jornalistas da Expedição que cruzaram pela primeira vez as fronteiras desses dois estados. A constatação é que a estrutura básica está lá. As duas estradas são vias amplas e com potencial. Mas se do lado mato-grossense, mesmo pavimentadas as rodovias são deficitárias, sem asfalto, iluminação ou sinalização do outro lado da divisa a lama toma conta da estrada. Um percurso que de caminhonete 4x4 já é difícil, parece impossível ser vencido por um caminhão carregado de grãos.

Em matéria que o Agronegócio Gazeta do Povo apresenta hoje no caderno de Economia, a Expedição Safra revela o diferencial competitivo que esse novo corredor de exportação de grãos, via portos do Norte, pode trazer ao Brasil. A reportagem mostra que investimentos em Porto Velho e Santarém prometem aliviar a sobrecarga de grãos nas estradas e portos do Sul. Nas mãos da iniciativa privada, essas obras já são uma realidade e têm data certa para acabar. Contudo, a consolidação dessa nova rota, que deve transformar o mapa de escoamento de grãos do país, também depende de investimentos públicos, esses sem prazo para conclusão.

Para que o caminho da safra do Norte deixe de apontar majoritariamente a direção de Santos (SP) e de Paranaguá (PR), portos cuja estrutura há tempos dá sinais de esgotamento, o governo precisa fazer a sua parte. A pavimentação e duplicação da BR-163, entre Guarantã do Norte (MT) e Santarém (PA), se constituem em um caso emblemático da lentidão dos investimentos públicos. Programadas no primeiro Plano de Aceleração do Crescimento (PAC 1), lançado em 2007, as obras ainda não foram concluídas. Prevista no PAC 2, a restauração na BR-364 foi incluída no Orçamento da União de 2013, mas as obras também evoluem a passos lentos, preocupantemente lentos para um país que quer fazer jus ao título de o celeiro do mundo.

Em jogo, a sustentabilidade de um setor que há doze anos sustenta as contas da Balança Comercial no Brasil.

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