Depois de entregar 3.400 tratores em quatro anos (2011-2015), na semana passada o programa Trator Solidário entregou a primeira colheitadeira a produtores paranaenses. Desenvolvido pelo governo do Paraná, intermediário na negociação com as montadoras, o programa tem facilitado e democratizado o acesso à tecnologia e à mecanização na pequena propriedade. A Secretaria Estadual da Agricultura (Seab) informou que já foram autorizadas a compra de 29 colheitadeiras, das quais 12 estão prontas para entrega.
Os primeiros agricultores a contarem com o benefício do programa foram Geraldo de Jesus Ceu, Nazareno Ceu e José Aparecido Ceu, da Região Norte do Paraná. Eles vão pagar R$ 317 mil pela máquina, que tem valor de mercado de R$ 373 mil, em 10 anos e juros de 5,5% ao ano financiados pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). A considerar inflação acima de 9% e taxa Selic de 14,25%, uma taxa de juros negativa. No programa governamental há desconto de 15% e 20% por ser compra coletiva.
Para o produtor, é uma oportunidade de evoluir em tecnologia, eficiência e competividade. E de uma maneira partilhada, reduzindo investimento e risco do negócio que, como o próprio nome do programa diz, é solidário. Para a indústria, que amarga quedas expressivas na comercialização, a expectativa de incrementar as vendas com o programa não vai salvar o ano. Mas com certeza traz um alento de um segundo semestre melhor que a primeira metade do ano.
Neste momento, em comparação com igual período do ano passado, a queda no comércio de tratores fica em torno de 30% e, de colheitadeiras, 40%, no pior desempenho desde 2009. Aliás, se não fossem as vendas de tratores através do programa, a situação estaria ainda pior para as montadoras. Segundo o governo estadual, somente no primeiro semestre deste ano foram entregues 568 equipamentos, com valor total acima de R$ 40,3 milhões.
Pelo programa avalizado pelo estado, a correção do financiamento é equivalência–produto e leva em conta o valor da saca de milho no Paraná. A estratégica considera a capacidade financeira do produtor e utiliza a produção como referência e moeda de troca. Um bom negócio para o produtor, que tem mais segurança para investir e diluir risco, com uma moeda que faz parte de seu cotidiano.
A compra coletiva favorece a mecanização e a adoção de tecnologia compartilhada na pequena propriedade, de agricultura familiar. Em tese, a propriedade com menos de 100 hectares teria mais dificuldade na aquisição de uma colheitadeira. Na prática, a compra em conjunto com outros produtores dilui o custo, facilita o financiamento, o pagamento e a mecanização.
Agro, PIB e US$ Enquanto isso, do ponto de vista da geração de riquezas, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio resiste ao viés de baixa da economia brasileira. Enquanto economistas projetam um resultado nacional negativo entre 2% e 3%, a economia agrícola se esforça para registrar um avanço bastante modesto entre 1% e 1,5%.
A considerar uma participação no resultado total do PIB entre 21% e 23%, não fosse o desempenho que tem origem no campo, o buraco no crescimento – ou melhor, a recessão – seria muito maior.
Parte dessa variação positiva não vem, necessariamente, de fundamentos de um mercado aquecido, com preço valorizado pela relação de oferta e demanda. A explicação primeira está no fato de as cotações serem dolarizadas e, internamente, o dólar estar supervalorizado frente ao real. Ou seja, não fosse o câmbio, o agronegócio também poderia estar em recessão. Ou, no mínimo, em um período de estagnação.
Exemplo clássico vem da soja, que na semana passada experimentou cotações na Bolsa de Chicago abaixo de US$ 9/bushel (27,2 quilos). Em um ano, a commodity perdeu pelo menos US$ 3/bushel.
No câmbio praticado nos últimos dias, de R$ 3,50, a saca de soja (60 quilos), na referência direta com a cotação negociada em Chicago, valia no mercado interno próximo de R$ 70. Com o câmbio a R$ 2,50, essa mesma saca estaria valendo hoje R$ 50, quase 30% a menos.