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Após três anos em queda livre, a área destinada ao trigo no Paraná esboça em 2013 uma pequena, quase que inexpressiva, mas importante reação. O crescimento deve ficar abaixo dos 10%, muito longe dos quase 40% de área perdida desde o ciclo 2009, quando o estado cultivou 1,3 milhão de hectares. O interesse cresce porque o preço do cereal está atrativo? Também, mas não é só isso. Ao mesmo tempo em que o produto torna-se mais escasso nos tradicionais fornecedores, o estado, o país e o mundo passam a demandar mais o produto. Não necessariamente porque aumenta o consumo – embora isso também ocorra –, mas por uma necessidade industrial.

Enquanto a área encolhia, o setor moageiro seguiu no caminho contrário e aumentou sua capacidade de processamento. Ampliou estruturas existentes, construiu e está construindo novos moinhos. Isso significa, que além de atender a demanda crescente do consumidor final, o produtor ainda precisa fazer rodar o industrial, o que vinha sendo feito com trigo estrangeiro, importado principalmente da Argentina. Ocorre, porém, que tanto o país vizinho como outros fornecedores, como Estados Unidos e Canadá, já não têm tanta oferta excedente disponível para colocar no mercado internacional. O resultado é exportação menor e preço maior para comprar o produto e evitar a ociosidade dos moinhos aqui no Brasil.

Ou seja, vivemos um tempo em que a triticultura passa por momentos distintos nas duas pontas da cadeia. Um bom, outro nem tanto. A cotação segue em alta, mas não por conta do fundamento que aumenta o consumo, mas do fundamento da oferta menor do produto. O cultivo paranaense, que tem potencial para atingir 850 mil hectares na atual temporada, se faz por pressão da própria indústria, que em alguns casos também representa o produtor, caso típico das cooperativas. Um ambiente onde o incentivo à cultura tem como foco o produtor, mas como objetivo a indústria, que enfrenta dificuldade, ou menos facilidade, para trazer a matéria-prima do exterior. Um cenário onde a produção nacional é mais do que bem vinda. Ela é imprescindível, talvez mais à indústria que ao produtor.

A realidade, mais uma vez, é resultado da dependência extrema, nada saudável, da importação. Produzir menos da metade do volume necessário ao consumo interno é quase que suicídio. Ainda mais quando se trata de um produto essencial ao abastecimento e à segurança alimentar. Isso sem entrar em detalhes da questão econômica envolvida nessa cadeia, que tem peso relevante sobre a cesta básica e por consequência no índice da inflação. Não tenho dúvida que vamos ouvir daqui a pouco que o “pãozinho” está pesando mais no bolso do consumidor e na inflação. Também, nem poderia ser diferente, fazendo pão com trigo argentino, uruguaio ou norte-americano.

Na safra 2012 a relação de produção X consumo do Brasil chegou ao fundo do poço. Da média de 50% da necessidade de consumo, caiu a 41%, O país precisou comprar lá fora quase 60% da sua demanda, agravou sua dependência externa, ampliou o risco de desabastecimento e expôs sua soberania, a considerar que se trata de um tema de segurança alimentar. Mas moinhos têm bastante. O que mostra que tem algo errado nessa história e que precisa ser revisto. Uma responsabilidade que também é do governo, mas não só do governo. O desafio, que também tem muito de conscientização, passa pelos moinhos, pela valorização do produtor e da produção nacional.

A situação de oferta e demanda está tão apertada que o mercado mundial começa a consumir os estoques para fazer frente à demanda. A colheita global este ano está prevista em 655,48 milhões de toneladas, enquanto que o consumo chega a 673,72 milhões. Os números são do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que estima os estoques finais da última temporada em 178,23 milhões de toneladas. Na safra anterior eram 197,9 milhões de toneladas.

Hoje, 11 de março, é um bom momento para começar a virar esse jogo. Começa o hoje o plantio da nova safra de trigo no Paraná. Pelo zoneamento agrícola, as primeiras lavouras do cereal já podem começar a ser semeadas. E desta vez protegidas pelo Plano Safra de Inverno, que define as regras de custeio, seguro, comercialização e preço mínimo. No ano passado essa política foi anunciada dois meses mais tarde, quando as lavouras de trigo estavam praticamente implantadas. Desta vez, além da antecipação do plano, há reajuste no preço mínimo e volume maior de recursos à subvenção do prêmio de seguro rural. Apesar do reajuste no preço mínimo ter ficado abaixo das expectativas, o setor produtivo reconheceu avanços e classificou como oportuno o lançamento antecipado do plano, praticamente em paralelo ao início do plantio.

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