A demarcação de terras indígenas, que esquenta os debates em Brasília, começa a ficar tensa no campo. De Norte a Sul do país, índios e agricultores, assim como as entidades de representação, públicas e privadas, entram em rota de colisão. E mais uma vez a discussão segue polarizada, entre produtores e indígenas, opondo o agronegócio e a questão social, a agricultura e a opinião pública. Questiona-se direitos e deveres, políticos, ideológicos, herdados ou adquiridos nos mais de 500 anos de história do Brasil. Ou seja, não é uma demanda que envolve única e exclusivamente a população indígena e os produtores rurais, mas toda a sociedade civil e econômica.
Não por acaso, um debate que tem muito a ver com a reforma agrária e com a polêmica que se estabeleceu na instituição do novo Código Florestal. Em comum, no centro das atenções, um conflito de ideais e interesses protagonizado, de um lado, pelo agronegócio e, de outro, por um componente com forte apelo de mobilização, no caso social, ambiental e, agora, indígena. Sem desmerecer o componente humano do processo, estamos mais uma vez inseridos em uma discussão entre produzir e preservar, tendo mais uma vez que estabelecer o limite e buscar o equilíbrio entre a necessidade de produção e a obrigação em garantir os direitos de uma minoria, dos nativos e da história brasileira.
O desafio está em como fazer isso respeitando proporcionalidades, questões técnicas e econômicas, de necessidades básicas dos índios e também da população em geral, da economia brasileira. O Brasil deve e tem obrigação de preservar sua história, que passa por colocar em pauta as demandas antropológicas, até como forma de fazer justiça social com a dívida que tem com a comunidade indígena. Agora, destinar 25% do território nacional à demarcação de terras indígenas é quase que um sacrilégio, não apenas agrícola, mas econômico.
A questão é onde fazer essa demarcação. Em terras produtivas, consolidadas e de alta tecnologia, que têm contribuição decisiva na geração de emprego e renda, na produção de grãos e carnes? Ou em terras mais preservadas, quase que de vegetação nativa, que em tese seria o ambiente mais natural da comunidade indígena? Assim como o homem branco, o índio também precisa plantar e colher. Mas um cultivo de subsistência, como sempre foi e sempre será, porque faz parte da sua natureza, cultura e modo de vida. Não que isso não possa ser mudado para que o índio possa ingressar na agricultura comercial. Mas aí não é a demarcação pura e simplesmente que vai resolver. É preciso investimento em educação e capacitação, com mudança cultural e de paradigmas.
Não são os estudos da Embrapa ou a vontade da Funai (Fundação Nacional do índio) que vão decidir sobre as demarcações. É preciso uma decisão judicial que, em tese, será acompanhada de um debate, plural e transparente, que garanta os direitos dos índios como também dos produtores rurais. Terra tem para todos. Em um país onde a vegetação nativa ocupa mais da metade do território e têm outros 20% de áreas degradas passíveis de recuperação, não é difícil acomodar índios e produtores. Desde que haja bom senso no uso dessas terras de acordo com as competências e necessidade de cada um. Dá para acomodar todo mundo e ainda garantir uma grande área de preservação. Desde que cada um no seu quadrado. Afinal, é com boas cercas que se fazem bons amigos.
Em alta
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) apontam um crescimento no Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária em janeiro. Na comparação com dezembro de 2012, o setor cresceu 1,61%, puxado principalmente pela agricultura, que cresceu 1,81%. O desempenho da pecuária foi 1,33% melhor. Com boa produtividade e cotações em reação, os preços do arroz, batata, feijão, fumo, mandioca, tomate, trigo e soja contribuíram para o resultado da agricultura. Na pecuária, frango, suínos e ovos favoreceram o cenário em janeiro. Na bovinocultura os preços começaram em patamar inferior ao último mês de 2012. Mas há expectativa de recuperação em função da retomada do crescimento econômico, aponta o estudo.
Em baixa
Na trajetória de queda estão o algodão, cacau, café e laranja. Cenário mais delicado está no café e na laranja. O preço pago pela caixa de 40,8 quilos de laranja, em torno de R$ 6, sequer cobre os custos de produção. Já com o café, a redução dos preços está relacionada ao excesso de oferta no mercado mundial. A situação se agrava com a definição do preço mínimo. A saca do café arábica passa de R$ 261,69 para R$ 307. No robusta o valor fica em R$ 156,57. Os cafeicultores paranaenses, segundo a Federação da Agricultura do Paraná (Faep), esperavam um valor mínimo de R$ 408,94/saca de café arábica. O presidente da FAEP, Ágide Meneguette, encaminhou ofício à Brasília pedindo medidas urgentes de apoio à comercialização, sob pena de a cultura acabar no estado. O documento reivindica preços de referência regionalizados para o café que levem em consideração os custos de produção de cada estado.
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